terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Noite.



Para Franz as noites quentes de verão eram especialmente longas.

Cansado pelo calor, tinha conseguido adormecer brevemente no início da noite. Agora, já algum tempo na cama não conseguia se recordar de sua breve passagem pelo mundo dos sonhos.

Sentia falta de uma história para desenhar, já há algum tempo não era agraciado por esse presente que sempre vinha com os sonhos.

Achava que esse presente estava à sua espera na Casa do Gramado, mas estava tendo dificuldades em encontrar a trilha que o levava ao mundo de encantos que ajudou a construir.

Era a segunda vez que o telefone tocava incessantemente, já que não mais conseguia dormir, mesmo se sentindo cansado achou melhor deixar o aconchego de sua cama, sempre desarrumada, para ouvir quem o procurava nessa hora tão indigesta.

Decepcionado, desligou o telefone no meio da ligação. Coisa do Mundo dos Preocupados, que ligam no meio da noite, para fazer propaganda de algo que não tem qualquer finalidade, oferecendo coisas e serviços sem qualquer utilidade, para alimentar uma estrutura que não tem nenhuma serventia.

Pelo menos serviu a Franz para que saísse da cama e, assim, pudesse ter um fim de noite menos monótono.

Sentado na cama ficou imóvel por um longo tempo observando o relógio que registrava 03h00, só conseguindo decifrar que era a madrugada uma vez que do outro lado da janela de seu pequeno apartamento reinava a escuridão.

Observando os ponteiros percebeu estar parado entre um instante e aquele que o precederia.

Finalmente levantou-se e se debruçou na janela, na rua deserta, tudo estava parado.

Ao longe entre os prédios, ficou apreciando a estreita rua que fazia parte do caminho que utilizava todos os dias, muito distante, junto à linha do horizonte a rua se parecia com uma pequena trilha, que a essa distancia, com os olhos embaçados pelo sono, achou que os prédios se pareciam com árvores, o que fez recordar de quando criança e de suas caminhadas na Trilha que se desenha com os desejos daquele que a percorre.

Nos limites de onde seus olhos podiam ver, a luz a azul da Grande Estrela iluminava um pequeno ponto no final da rua que se estreitava formando a trilha.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Tempo e Espaço.



Muitas vezes as noites de verão deixavam Franz inquieto, especialmente as mais quentes, às vezes o calor não deixava que o sono viesse, o que tornava as noites longas, só depois de se sentir como parte da Casa do Gramado é que se deu conta que o Tempo não era longo nem curto e sim algo que se envolve com o Espaço.

Como agulha e linha, se o tempo podia ser representado pela agulha, a linha estaria simbolizando o espaço, ambos costurando a existência no Universo.

Igualmente enquanto o sono permeia o espaço, o sonho se localiza no tempo, quando alinhavados os sonhos refletem os desejos, quer Franz estivesse acordado ou dormindo profundamente.

Muitas vezes os sonhos de Franz quando acordado são sutis, leves, tênues, fica até difícil sentir se está sonhando ou simplesmente deslizando, flutuando, nas tramas do Tempo e Espaço.

É nos sonhos acordados que a Trilha se desenha, muitas vezes na parede do quarto onde Franz dorme, unindo seu coração ao de Valkíria.

Desperto no calor da noite, foi olhar à janela, a rua deserta, em seu quarto o total silêncio, só quebrado pelo resvalar dos pés no tapete que cobre o chão.

No tapete o Freud-cão dorme profundamente, Franz observa ser peito inflar e esvaziar lentamente com o compasso de sua respiração.

Ao desviar o olhar para o relógio ao lado da cama se dá conta de não estar ouvindo o tic-tac característico, curiosamente percebe que o ponteiro há tanto conhecido parece estar estagnado, quase transparente, parado entre um instante e aquele que o precede.

Ao fitar o céu, entre a Grande Estrela Azul e a sua janela, observa um vulto em pé, brilhando, flutuando.

- É você meu amor, estava com saudades.

- Também, muitas.

- Vamos até a nossa estrela.

- Lá no infinito, onde o Espaço se encontra com o Tempo.

- Vamos amor.

- Vamos juntos, de mãos dadas.

- Bem devagarzinho.

- Apreciando a presença.