terça-feira, 11 de outubro de 2011

Somos Sonhos - Parte II







À medida que anoitecia muitos dos que ainda estavam perplexos diante do imenso congestionamento começaram a se dar conta da impossibilidade de continuarem vivendo nas cidades, e quando não mais conseguíamos ver nossos colegas, dado a escuridão da noite e por eles a essa altura já terem adentrado na imensa floresta, que muitos dos perplexos se deram conta de que esse era o melhor caminho a seguir.

Uma imensa fila de pessoas começou a se formar e eles caminhavam no sentido da floresta e das trilhas, como se tivessem saído de um estado de êxtase, nesse momento estavam rejeitando tudo que uma cultura enlouquecida tinha produzido no sentido de se desprender do único mundo que conheciam, começavam a se perceber como um todo, um Universo infinito, vivo, pulsante.

Enquanto caminhavam o tempo retrocedia, os limites das cidades pareciam cada vez mais próximos enquanto a floresta se ampliava, primeiro ocupando o lugar de casas, depois suprimindo ruas e avenidas, as plantas estavam começando até a crescer e invadir os espaços dos prédios.

Um mundo novo estava se formando, mas ele não seria para todos, só tinha espaço para aqueles que conseguiam sair do estado de êxtase desencadeado pela cultura que achava ter aprendido que não fazia parte do todo, que acreditavam que esse mundo só existia para servir às suas falsas necessidades.

Nesse novo mundo só teria lugar para aqueles que se sentissem como parte dele.



Quando o dia estava por amanhecer as ruas estavam desertas, era difícil determinar os limites da cidade e da imensa floresta que parecia engolí-la.

Os perplexos tinham abandonado definitivamente suas máquinas, agora como sempre foram, totalmente inúteis, desnecessárias, um monumento destinado a uma cultura egoísta que se considerava maior do que o próprio Universo que a continha. Suas máquinas agora apodreciam, seriam uma ferida que levaria séculos para se cicatrizar, até que pudessem se reintegrar à natureza de onde nunca deviam ter sido subtraídas.

Nesse momento Franz e Valkíria flutuavam mais alto do que jamais Franz tinha conseguido em seus sonhos, os quais aparentemente Valkíria sempre tivera conhecimento, ainda que nunca tivessem sido verbalizados a ela.

Nitidamente entre eles as palavras pareciam desnecessárias, olhavam tão profundamente um nos olhos do outro que podiam tocar as almas, de leve, como se fosse com a ponta dos dedos, em um tempo muito remoto tinham sido uma única partícula, que tinha se desprendido de uma estrela muito distante que habitava uma outra galáxia, isso fazia com que para eles, muitas vezes as palavras fossem desnecessárias, a simples presença, um leve olhar, já continham em si todos os significados que eram necessários.

Os perplexos que não se deram conta da necessidade de procurarem pelas trilhas, agora se aglutinavam nos imensos prédios que um dia sua cultura no ímpeto de seu egoísmo haviam construído, parece que tinham a necessidade de alcançarem os céus, por isso construíam máquinas que voavam e edifícios tão altos.

Eram tão perplexos que nunca conseguiram se dar conta de que os caminhos para chegarem aos céus, às estrelas, nunca poderia ser atingido com aquelas máquinas ou construções, se olhassem para si próprios, para o seu interior, conseguiriam perceber que eram constituídos da mesma matéria e energia da qual são formadas as estrelas, e assim as direções para se chegar a elas se desenhariam.

Da forma como faziam mesmo que as estrelas pudessem ser alcançadas simplesmente esticando as mãos através de suas janelas, não se dariam conta de serem partes delas, se queimariam, seriam até consumidos por elas, mas continuariam milênios luz distantes de sua essência. 



Gradualmente as trilhas  que em algum momento foram extensões das antigas ruas e avenidas das antigas cidades que adentravam a floresta foram se fechando por uma densa vegetação, muito antes de as antigas máquinas dos perplexos serem reintegradas à natureza, esses caminhos se fechariam definitivamente.

Nesse meio tempo os perplexos começavam a se readaptar a uma nova forma de vida, os meios de locomoção até então conhecidos seriam totalmente abandonados, isso implicava em uma remodelação das suas cidades.

Não demorou em acharem caminhos para que eles reaproveitassem suas antigas construções, como tinham dificuldades em se integrar à natureza da qual faziam parte. Esse era um conceito do qual sempre tiveram dificuldades em entender, tanto os preocupados quanto os perplexos, não conseguiam perceber a singularidade existente entre o ser e o mundo, por isso desperdiçavam tantos esforços no sentido de transformar o ambiente.

Habitar as trilhas implicava na integração entre o ser e o ambiente, chegando ao limite de não haver distinção entre um e outro, muitas vezes para essa integração ocorrer o necessário era simplesmente não fazer e, assim ser e mundo se complementariam cedendo um ao outro tudo o que era preciso.

Em sua ânsia de modificar o mundo na intenção de obter um conforto maior, tanto os perplexos quanto os preocupados gastavam tanta energia, que o pouco conforto que conseguiam obter era muito inferior à quantidade de energia que dispendiam.

Com a dificuldade em se transportarem e também aquilo que produziam, os perplexos mudaram os paradigmas de seu modo de existir, assim tudo o que produziam deixava de ser transportado para outros lugares logo passaram a confeccionar tudo o que necessitavam nos próprios lugares que habitavam.

Assim habitavam, trabalhavam e viviam no mesmo lugar, inicialmente aproveitaram suas antigas construções, e buscaram caminhos para integrá- las, muitos corredores foram construídos, ligando os antigos prédios, outras vezes ligavam um prédio ao outro, construindo um terceiro no meio.

As construções atingiam dimensões nunca antes conhecidas, às vezes parecia que conseguiram atingir os céus.

Franz e Valkíria começavam a sentir dificuldades para flutuar entre os imensos edifícios que a cada dia ficavam maiores.

Os perplexos sentiam-se incomodados com a presença dos dois, sentiam a necessidade de capturá-los, tinham a impressão de que havia alguma relação entre eles e o estranho fenômeno que os assolou, achavam que eles teriam respostas, mas o que ainda não tinham percebido é que desconheciam as perguntas.



Eventualmente Valkíria e Franz usavam os andares mais altos das antigas construções dos perplexos para descansarem e dormirem, quando dormiam às vezes sonhavam com o tempo em que habitavam uma imensidão vazia, escura e fria, iluminada brandamente por uma infinidade de pequenos pontos de luz, muito distantes espalhados por todos os lados, sabiam que um dia tinham se desprendido de um desses pontos, muito brilhante localizado no limite onde o espaço se encontra com o tempo.

Até que um dia entraram no campo gravitacional de um planeta azul, ainda em formação em que a vida estava fervilhando, crescendo e se transformando, mas ao adentrarem a atmosfera do planeta, a pequena partícula da qual se originaram se dividiu em duas, vindo a cair em partes diferentes e distantes do planeta.

A partir daí passaram a integrar e partilhar esse planeta vivo, pulsante, com a divisão da partícula suas memórias também foram divididas e fragmentadas, várias vezes estiveram próximos de se encontrarem e assim montar o imenso quebra-cabeças que poderia explicar quem eles eram e suas origens.

Certa vez estiveram muito próximos, chegaram a habitar a mesma casa, mas estavam separados por um breve lapso de tempo o que os impediu naquele momento de juntar os fragmentos que os compunham.

Nessa ocasião Franz trabalhava com os preocupados seu sonho era restaurar antigas construções e reavivar as memórias e a cultura daqueles que as construíram.

Já Valkíria tinha vivido cerca de um século antes, na época suas memórias fragmentadas deixavam seu corpo doente, o médico que a tratara tinha utilizado uma técnica nova, que estava começando a ser utilizada em um continente distante, técnica essa que mais tarde viria a se imortalizar.

Posteriormente Valkíria herdou desse médico suas anotações e publicações daqueles que construíram esse novo tipo de tratamento. Valkíria se apaixonou pelo método e dedicou sua vida no sentido de registrar e preservar essa memória.

Depois que ela deixou aquela existência o seu trabalho gradualmente foi caindo no esquecimento, só permanecendo na memória de uns poucos que tinham convivido com ela.

Praticamente um século depois Franz tinha recebido a incumbência de demolir a casa em que Valkíria tinha vivido para a construção de um edifício comercial, despersonalizado, mas que renderia lucros significativos às parasitas.

Nesse episódio eles quase conseguiram romper os lapso de tempo que os separavam, Franz redescobriu todo o trabalho de Valkíria e pessoas, que na época dele já eram idosas, mas que tinham se beneficiado do conhecimento dela.

Enquanto fazia seu projeto, Franz e Valkíria chegaram a se ver várias vezes, normalmente através de uma janela que do lado interior da casa dava vista para o jardim.

Com a ajuda daqueles que tinham convivido com Valkíria, foi possível evitar a demolição da casa, e transformá-la em um tipo de museu e centro de estudos e atendimentos a pessoas que necessitavam de ajuda.

Agora, passado mais de uma geração da época em que Franz e Valkíria se viam através de uma janela, separados por um lapso de tempo, eles tinham mais uma vez a oportunidade de se encontrarem, desde que foram separados ao adentrarem a atmosfera do planeta, jamais estiveram tão juntos, caso conseguissem se manter distanciados dos perplexos teriam a oportunidade de recompor as suas memórias.



Valkíria principalmente e Franz também, sentiam-se fascinados pelo mundo e emaranhado de trilhas que se formaram na densa floresta, mas à medida que conseguiam reviver suas memórias sentiam que o seu lugar não era nem nas trilhas nem nas cidades que os perplexos estavam reconstruindo, mas ainda que ameaçados sabiam que tinham algo muito importante a ser feito, mesmo que não soubessem ao certo do que se tratava.

Sabiam que se fossem viver nas trilhas seriam muito bem recebidos, na realidade aqueles que para lá se mudaram se sentiam gratos pelo estranho fenômeno que assolou seu antigo mundo.

Aqueles que foram viver nas trilhas no princípio de sua nova vida ficaram se questionando sobre o por que de antes terem se constituído daquela forma, seria tão mais simples não desperdiçar energia para transformar o mundo e simplesmente desfrutar o que ele tinha a oferecer.

Mas em muito pouco tempo deixaram de se questionar com coisas sem importância, essa era uma prática a ser abandonada, ela pertencia àqueles que viviam no mundo dos perplexos, nas trilhas acreditavam que as práticas inúteis desenvolvidas pelos perplexos deveriam cair no esquecimento.

Nas trilhas todo tipo de des-envolvimento era rejeitado, uma vez que à medida que ampliavam o nível de envolvimento entre eles próprios e o mundo que os rodeava, mais a vida os presenteava.

Já no mundo dos perplexos o desenvolvimento ocorria em um ritmo ainda mais acelerado que antes de ter ocorrido o imenso congestionamento, mas a cada vez que conseguiam resolver uma situação problema, a própria solução que tinham criado, acabava por desencadear uma série de outras situações tão ou mais problemáticas que a inicial.

Os perplexos estavam ficando obcecados com a idéia de capturar Franz e Valkíria, que ficavam flutuando entre os corredores formados pelo emaranhado de construções que a cada dia mais se agigantavam.

Os dois estavam ficando cansados, no princípio havia uma infinidade de prédios vazios, principalmente nos andares mais altos, mas agora estava praticamente tudo ocupado pelos perplexos e suas máquinas, estava ficando difícil encontrar um lugar em que pudessem descansar e dormir e, de alguma forma eles sabiam que as respostas do que ainda os mantinham no mundo dos perplexos só poderiam ser encontradas nos sonhos, enquanto dormiam.



Ficar flutuando era gratificante para Valkíria e Franz, mas eles tinham consciência da intenção dos perplexos, que ainda estavam envoltos nos conceitos e preconceitos de seu antigo mundo, diferente do que ocorria nas trilhas, eles tinham uma imensa dificuldade em conviver com seres que fossem diferentes deles, seja na aparência ou nos modos de pensar, sentir e agir.

Franz e Valkíria não tinham nenhuma relação com o estranho fenômeno que tinha assolado o mundo dos perplexos, mas eram os únicos diferentes que ainda viviam entre eles.

Essa diferença atraia a atenção dos perplexos que estavam sempre à procura de uma forma para capturá-los, com a intenção de obterem respostas sobre o fenômeno que tinha alterado o seu mundo e o seu jeito de ser, ainda que não tivessem a menor idéia de quais seriam as perguntas a serem feitas, se em algum momento se dessem conta de quais eram as perguntas, não teriam dificuldades em encontrar as repostas, para isso eles não necessitavam de Franz ou Valkíria.

Diferente do que ocorria nas trilhas, os perplexos não se davam conta de que as respostas que podiam amenizar as suas angústias estavam neles próprios, essas jamais seriam encontradas em outros seres ou lugares.

Por muito tempo ainda os perplexos sofreriam com os efeitos de seu des-envolvimento, que os levava à ruptura entre eles e o mundo que os rodeava, estavam tão obcecados com seu modo de vida e não percebiam que quanto mais se des-envolviam, mais se afastavam de sua própria essência.

Nas trilhas não havia ruptura entre ser e mundo, quando parte deles deixaram de ser perplexos e para lá se mudaram perceberam que faziam parte de um todo, um Universo infinito, vivo, pulsante. E à medida que se envolviam entre eles próprios e o mundo que os rodeava mais se aproximavam da própria essência.

As dúvidas que ainda permeavam a vida de Valkíria e Franz não poderiam ser desfeitas nem nas trilhas nem no mundo dos perplexos, eles sabiam disso, também sabiam que só no mundo dos sonhos elas podiam ser desfeitas e para isso precisavam dormir, no estágio em que estavam ainda que pudessem sonhar enquanto flutuassem, não conseguiam ir acima dos prédios mais altos e, assim corriam riscos de serem capturados pelas inúmeras redes que os perplexos tinham confeccionados para essa finalidade, assim, para poderem sonhar eles procuravam os andares altos de prédios que achavam estar abandonados, ainda que tomassem cuidados, essa prática estava em vias de os levarem à sua captura.



O fato que ocorreu na seqüência fez com que Valkíria e Franz se afastassem do núcleo onde viviam os perplexos.

À noite adentraram um antigo prédio que aparentava estar vazio, para poderem dormir e se voltar para os seus sonhos, sabiam que os caminhos que tinham a trilhar poderia deixar resquícios aos perplexos para que eles tivessem a possibilidade de deixar o seu estado de perplexidade.

Mas há muito eles estavam sendo espionados, os perplexos já sabiam que não podiam surgir para eles inesperadamente, pois isso os espantariam levando-os a fugir, assim armaram uma armadilha.

Pela manhã Valkíria ainda dormia profundamente. Franz já desperto se levantou e foi ver o sol nascer em uma outra ala do prédio, quando tinha se afastado um pouco da sala onde tinham dormido a porta se fechou abruptamente.

No momento em que Franz se deu conta vários perplexos estavam tentando cercá-lo, e Valkíria tinha ficado trancada no quarto onde tinham dormido.

Ainda que com alguma dificuldade Franz conseguiu escapulir por uma das janelas, quebrando-a, mas Valkíria tinha ficado indefesa, até então a capacidade de flutuar pertencia a Franz, ela só o acompanhava.

Valkíria estava indefesa, nesse momento sozinha, presa e assustada, por ter seu sono interrompido.

Felizmente os perplexos não tinham conhecimento de que só Franz tinha a capacidade de flutuar, assim se cercaram de cuidados para se aproximar dela e evitar que ela também encontrasse alguma janela para escapulir. A sala onde estava presa se encontrava no centro do prédio, distante das janelas.

Os perplexos não tinham a intenção de prejudicá-los, na realidade, eles  sempre tiveram muitas dificuldades para saberem o que desejavam, suas vidas eram permeadas por ansiedades e angústias, isso os impediam de voltarem-se a si mesmo, uma vez que essa atitude os levariam ao encontro de suas ansiedades e conseqüentes angústias, assim sempre buscavam soluções para as suas próprias questões fora se si mesmos, enganando-se a si próprios, pois assim não se deparavam diretamente com seus fantasmas e sofrimentos, mas esse ciclo vicioso só provocava um sofrimento ainda maior.

Nem Franz, nem Valkíria tinham as respostas para questões que eles sequer imaginavam quais seriam as perguntas, nem tampouco as questões dos perplexos estavam relacionadas com o estranho fenômeno que desencadeou o imenso congestionamento que transformou profundamente o modo de ser deles, nisso sim estava a fonte de sofrimento dos perplexos.

Mas para chegar a isso eles precisavam deixar que seus sentimentos viessem à tona e usassem seus pensamentos para constituir uma lógica que desse sentido ao que sentiam e na seqüência criar um emaranhado de atitudes que fossem coerentes com o que sentiam e pensavam.

Muito antes de o estranho fenômeno que como conseqüência provocou o congestionamento que mudou de sobremaneira o modo de vida dos perplexos, seus sentimentos vinham aos poucos sendo reprimidos, e chegou há um ponto que provocou um colapso psíquico coletivo, caracterizado pela cisão entre os sentimentos e pensamentos, foi essa cisão que deu origem ao mundo dos perplexos.

Franz e Valkíria eram os únicos em que essa cisão não havia ocorrido, eles não pertenciam mais ao mundo dos perplexos.



Os perplexos não tiveram dificuldades maiores em aprisionar Valkíra, mas também não tinham nenhuma intenção de prejudicá-la, passado a tensão da captura estavam tentando se comunicar com ela, tentavam explicar que só estavam em busca de respostas e queriam que ela atraísse Franz, que não se afastava das proximidades de onde agora ela se encontrava em cativeiro.

Mas Valkíria não sabia o que responder na mesma proporção em que os perplexos não sabiam o que perguntar.

Em aparente desespero perguntaram o ela sobre os motivos de eles terem transformado o modo de vida do mundo que consideravam deles, mas Valkíria não sabia o que responder, a pergunta para ela não tinha qualquer sentido.

Ela não tinha idéia do que os perplexos consideram ser seus antigos modos de vida, essas eram lembranças tinham praticamente se apagado de sua memória, à medida que os conteúdos de seus sonhos dominavam seu psiquismo.

Quanto mais Valkíria e Franz se aprofundavam nos conteúdos presentes em seus sonhos, mais se aproximavam de sua essência e, assim, as dúvidas dos perplexos não faziam sentido a ela, pois na medida em que eles deixaram de sonhar, mais eles se separavam do mundo que os rodeava, como se fossem seres destacados dele, ainda mais cindidos do que antes de ocorrer o estranho fenômeno que deu origem ao imenso congestionamento que originou as mudanças de vida no mundo dos perplexos.

Já a segunda afirmativa presente no questionamento dos perplexos, tinha ainda menos sentido do que a pergunta inicial, quanto mais Valkíria e Franz se aproximavam de sua essência, menos tinha sentido considerar o mundo como algo possível de posse, uma vez que todos somos parte do todo, um Universo infinito, vivo, pulsante.

Depois de alguns dias de cativeiro, por mais que pensassem os perplexos não conseguiam elaborar nenhuma pergunta e, aparentemente Valkíria começava a adoecer, por mais que tentassem alimentá-la, na concepção deles ela nada aceitava e por isso achavam que ela estava adoecendo, não se davam conta de que os alimentos deles, não tinham qualquer finalidade a ela, para sobreviver ela precisava ficar exposta às estrelas, de onde vinha a energia que a supria.

Os perplexos começaram a se dar conta de que Valkíria não tinha como responder às suas questões, mas acreditavam que mantendo-a em cativeiro isso possibilitaria a captura de Franz e ele talvez tivesse as respostas.

Ela já não tinha mais energia para se movimentar, assim resolveram deixá-la próxima a uma janela envidraçada para que Franz pudesse vê-la, sabiam que ele tentaria libertá-la, e assim conseguiriam capturá-lo também. Talvez ele tivesse as respostas que desejavam.

Construíram uma gaiola de vidro muito resistente para abrigá-la, e a deixaram junto a uma grande janela para que Franz pudesse vê-la.

Estava anoitecendo, logo as estrelas tomariam conta do céu.



Quando Franz viu Valkíria próxima à janela ele não teve dúvidas se aproximou para se envolver com ela e voltassem a flutuar, tinha a intenção de se afastar do mundo dos perplexos definitivamente depois desse episódio, mas do lado de fora do prédio não era possível perceber que ela estava em uma gaiola de vidro.

Só quando chegou próximo à janela é que percebeu que Valkíria estava aprisionada, quando se viram se tocaram de leve apenas com o vidro da gaiola os separando, mas há muito Valkíria e Franz estavam entrelaçados, e quando tocaram as mãos apenas separados pelo vidro da gaiola, sentiram como se estivessem acariciando as próprias almas, eles estavam envolvidos, ainda que houvesse uma parede de vidro separando-os, suas almas podiam se entrelaçar.

Franz decidiu ficar ao lado de Valkíria, mesmo que isso implicasse em sua captura também, enquanto se olhavam e se tocavam através da parede de vidro a memória de Franz voltou ao tempo em que se viam pela janela de uma antiga casa que inicialmente seria demolida, mas posteriormente ele participou de sua recuperação, naquela época estava separado de Valkíria por um lapso de tempo e, ainda assim eles vieram a se encontrar, então não seria uma parede de vidro que iria separá-los.

Quando se tocaram, Valkíria se animou e sentiu a energia fluir em seu corpo, levantou-se lentamente para olhar Franz nos olhos, tinha acabado de anoitecer, ao longe no céu ela pôde ver um pequeno ponto de luz, aparentemente uma pequena estrela com um brilho cálido, de onde estavam, por outros ela só poderia ser vista por potentes telescópios, daqueles que giram na órbita do planeta, aparentemente Valkíria olhava para o vazio, mas a energia fluiu pelo seu corpo como nunca antes tinha ocorrido.

Ao longe os perplexos vislumbraram um brilho intenso vindo da gaiola onde Valkíria estava presa, eles não demoraram para surgir, dessa vez Franz não denotou qualquer esforço em tentar escapar, como ocorrido com Valkíria, também não tinham qualquer intenção de prejudicá-lo, só queriam respostas, ainda que continuassem sem qualquer idéia de quais seriam as perguntas.

Quando os perplexos se aproximaram, eles desviaram momentaneamente a atenção de Valkíria, e o brilho que emanava da gaiola cessou. Não tiveram dificuldades em aprisionar Franz, e resolveram deixá-lo junto com Valkíria, em breve tentariam mais uma vez se comunicar com eles, em busca de respostas.



Um comentário:

  1. AO SE DESCOBRIR COMO PARTE INTEGRANTE DO UNIVERSO, SE É UNIVERSO E, AS COISAS SIMPLESMENTE ACONTECEM COM NATURALIDADE GENUÍNA, NÃO É PRECISO ALIMENTOS, MÁQUINAS, COISAS MATERIAIS E POSSE SOBRE AS COISAS FORMADAS PELO SER HUMANO NO MUNDO DOS PERPLEXOS, ANGUSTIADOS, FRUSTRADOS COM SUAS PRÓPRIAS CRIAÇÕES, ONDE A EXPECTATIVA DE SER NO MUNDO CRESCE MAIS E MAIS, NUM CICLO SEM FIM, GERANDO O DESESPERO POR RESPOSTAS.fRANZ E wALQUÍRIA SE DESCOBRIRAM, SE TOCAVAM , SEM FRONTEIRAS POIS ESTAVAM AQÉM DISSO TUDO E NÃO PRECISAVAM DO MUNDO PARA OBTER RESPOSTAS, APENAS DA ENERGIA DO COSMOS, OU SEJA, DE SUA PRÓPRIA ENERGIA ONDE INTERAGIAM , POR MEIO DAS TRILHAS E DE VOLTA ÁS ESTRELAS.

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