sábado, 1 de fevereiro de 2014

Noite Quente.



Não estava dormindo nem acordado quando ouvi os passos tão bem conhecidos no corredor, lá fora no quintal.

O silêncio raramente interrompido por alguém que passava pela rua denunciava uma noite quente de verão, revelada pela escuridão Além da Janela.

Não era o único a sentir calor, meu dócil cão partilhava o mesmo sentimento, agora apreciando o brilho das estrelas que inundava a noite escura.

Lentamente desci a escada, sabia que um pouco de água fresca faria bem ao meu doce amigo, e porque não um suco bem gelado também para me refrescar, a noite estava convidando para ser apreciada.

O pé da escada, no corredor do meu pequeno quintal, me acomodou e ao meu lado esse meu companheiro de todos os dias veio partilhar a presença, ele com sua água fresca e eu com meu suco gelado.

Em um instante o degrau da escada se redesenhou lentamente a varanda começou a surgir, primeiro o chão com lajotas desgastadas foi-se transformando em madeira igualmente desgastada, mostrando os desenhos que essa constrói com o tempo.

O degrau cedeu lugar ao banco também de madeira, olhando fixamente em meus olhos meu amigo de tantos anos pediu um espaço no banco, um leve sinal com os olhos foi o bastante para ele se acomodar ao meu lado.

Ele gostava especialmente de ouvir sobre as estrelas, em seus olhos podia ver as histórias dos muitos mundos em que juntos tínhamos caminhado, sentia-se bem no Mundo das Estações, mas gostava especialmente dos Esquecidos.

Estava pensando em que mundos ainda andaria até que chegasse na Grande Estrela Azul, que agora brilhava intensamente entre o bambuzal no fundo do terreno.

Ouvia atenciosamente histórias sobre a formação das estrelas, mas sentia que as explicações tinham uma importância menor, uma vez que a matéria e a energia que as mantinha era a mesma que pulsava em seu coração; no de Franz agora sentado no banco da varanda, em transe apreciando a Estrela Azul; no de Valkíria, em algum lugar além do bambuzal, em um lugar cercado por montanhas azuis, que também estaria em transe, tocando bem de leve o coração de Franz, com a pontinha dos dedos; do Freud-cão, do Nick e tantos outros seres encantados, que agora livres, descansavam na Casa do Gramado, envoltos, cobertos, pela luz de sua estrela.

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