sábado, 10 de março de 2012

A Trilha.




As trilhas são locais permeados pela magia e por encantos, elas ligam dois mundos, mas trazem em si um Universo particular para aqueles que conseguem reconhecer os seus segredos.

Quando criança Franz andava pela trilha toda vez que desejava ir à Casa do Gramado, ou quando sentisse necessidade de retornar ao mundo dos preocupados.

A extensão da trilha sempre era proporcional à necessidade de tempo que ele tinha para refletir sobre sua vida e a daqueles que o rodeavam, fosse de Valkíria e seus irmãos ou de seus familiares.

Quando criança viveu um dilema, seu desejo era viver com Valkíria, mas a sombra da preocupação o assolava, pois para isso tinha que deixar aqueles com quem convivia no outro mundo.

Certa vez ele se sentiu adoecido e, em uma manhã em que se sentia entristecido, sem ânimo para brincar, ficou observando longamente a mãe e quando essa percebeu o acolheu e, sentindo que não era o momento propício para outras atividades, ela o levou à sua cama e deixou que dormisse até mais tarde.

Nessa manhã Franz pôde aproveitar um longo sonho, viu a trilha se desenhar na parede do local onde dormia e lentamente a adentrou e, conforme andava as árvores e arbustos se fechavam por traz dele. Foi a caminhada mais longa que até então tinha feito pela trilha.

Ao se aproximar da Casa do Gramado, notou que a bifurcação, ainda que houvesse resquícios dela, também estava tomada por árvores e grandes arbustos, impossibilitando efetivamente o seu acesso.

Ele sabia que no caminho da bifurcação havia algo de muito significativo para a sua vida, de Valkíria e de seus irmãos, mas também percebeu que esse não era o momento de seguir esse caminho, se um dia esse dia chegasse a bifurcação estaria aberta e, não haveria qualquer sombra seja em seu coração ou no de Valkíria e seus irmãos.

Nesse momento lembrou-se do visível desespero presente nos olhos da irmã de Valkíria, quando um dia quis adentrar esse caminho.

Os sonhos têm uma característica curiosa, eles devem ter uma estreita ligação com trilhas, à medida que caminhava lentamente todas preocupações existentes no coração de Franz foram se apagando, deixando do mundo dos preocupados apenas resquícios de lembranças, principalmente aquelas ligadas aos laços afetivos que lá efetivou.

Quando acordou, sentiu o cheiro de café que vinha da cozinha, mas não era o café da manhã, já era bem tarde, logo anoiteceria. Ficou totalmente desperto quando a mãe entrou no local onde dormia, trazendo o café e um bom pedaço de bolo de milho.

Foi a primeira vez que se deparou com a mãe e ela não ficou falando sem parar, só se olharam nos olhos, como habitualmente fazia com Valkíria.

Ao sair a mãe só pronunciou uma pequena frase: “Acho que hoje você pode ir dormir mais tarde.”

Na seqüência Franz foi dar um pequeno passeio pelo quintal da casa em que morava, andou lentamente querendo reconhecer cada pequeno espaço, achava estranho como eles acumulavam objetos, brinquedos, mesmo sendo muito pobres tinham muitas coisas, ainda que essas, pouca, e na maioria das vezes não tinham qualquer finalidade e, era habitual ouvir alguém se queixar da falta de alguma coisa.

A Casa do Gramado veio mais uma vez à sua mente, lá não havia quase nada, mas sempre tinham tudo o que era necessário.

É até provável que Franz continuasse a sonhar com a Casa do Gramado, Valkíria e tudo que havia naquele mundo de sonhos, mas esses não mais vieram habitar a sua consciência, como também não se recordava de qualquer outro sonho com maiores significados, até que se tornou adulto, quando começou a visitar uma outra casa na qual veio a conhecer uma jovem, mas essa sempre estava do outro lado da janela.

Foi quando Franz voltou a se recordar de seus sonhos.

2 comentários:

  1. Muito Lindo esse texto George! Parabéns!

    Suas escritas tens uma profundidade imensa, me identifico muito com seus textos.Muito mesmo.

    Muitas inspirações pra você...Abraços.

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