sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Estrela Azul.



Uma leve brisa balança a cortina da janela, anunciando o fim do entardecer que se aproxima. É chegado o momento de se acomodar na varanda e aproveitar a energia que alimenta a vida.

No horizonte permeado pelas Montanhas Azuis que em seus pés, nessa época do ano se encontra rodeada pelos Ipês amarelos que parecem fechar todos os caminhos para as suas entranhas.

Defronte à varanda da Casa do Gramado entre os ipês uma tênue linha começa a se desenhar, mostrando o caminho para se chegar ao coração das montanhas.

Com o anoitecer a estrela mais brilhante, a de luz azul ilumina a tênue trilha que leva ao coração das montanhas se unindo aos corações de Valkíria e Franz, que agora flutuam no centro do gramado em direção à trilha que inicia entre os ipês.

Franz e Valkíria, agora em transe, na trilha quase que totalmente fechada pelas grandes árvores, flutuam lentamente em direção ao coração da montanha.

A escuridão da trilha só é quebrada pela luz azul da grande estrela que transpassa entre as folhas das árvores, fornecendo uma leve iluminação, cálida, para que assim não chegue a interferir no transe em que ambos se encontram.

No meio da noite, Franz e Valkíria chegam ao coração da montanha, uma pequena clareira, agora permeada pela luz azul que de tão intensa ofusca a lua cheia, que agora ilumina o lado oposto da montanha.

Do outro lado a lua também apresenta um brilho tão intenso que para aqueles que não conhecem o mundo das trilhas, faz com que o brilho da estrela azul se pareça com o das outras estrelas, talvez só com um pouco mais de luminosidade que as demais, mas nada que atraia mais as atenções.

A grande estrela azul só mostra a sua luminosidades àqueles que se sentem como parte das trilhas, parte do todo, desse infinito Universo, vivo, pulsante.

Na pequena clareira no coração das montanhas, a grande estrela azul brilha intensamente no centro do céu, levando Valkíria e Franz a flutuarem, agora acima das montanhas, tão alto, que se não estivessem em transe poderiam ver tanto a Casa do Gramado quanto o pequeno apartamento que Franz usava para dormir, lá no mundo dos preocupados, ainda que eles estivessem separados por um breve lapso de tempo.

A energia que vinha da estrela azul e chegava e esse mundo distante é o suficiente para estreitar o breve intervalo de tempo entre Franz e Valkíria, quando esses se encontravam no mundo do sonhos.

Ao amanhecer à medida que a luz do sol começasse a ofuscar a grande estrela azul Franz voltaria ao mundo dos preocupados, enquanto Valkíria calmamente iria fazer companhia aos seus irmãos lá na Casa do Gramado.

Ao acordar, Valkíria e Franz teriam acumulado energia o suficiente proveniente da estrela da qual um dia se desprenderam para se manterem juntos, ainda que vivendo em tempos diferentes, para eles o sonho era um lugar em que esse intervalo de tempo podia ser rompido.




domingo, 19 de fevereiro de 2012

Nas Montanhas Azuis.





- Franz, você está dormindo.


- Não minha doce Valkíria, eu só estou sonhando um pouco.


- Ah! Então me conte um pouco de seu sonho.


- Só estava apreciando um pouco as montanhas azuis.


- Como assim, já é noite, e chove um pouco lá fora, não é possível vê-las.


- Elas estão refletidas em seus olhos, e neles há toda a luz necessária para que eu possa enxergar cada detalhe delas: as árvores, a relva, as trilhas.


- Sabe que você me encanta.


- Ao invés de contar prefiro ir com você até elas, por que não vem comigo até a janela para fazermos juntos esse sonho.


- Podemos ficar juntos, abraçados, entrelaçados... Debruçados na janela, apreciando.


- Sim, e o sonho pode nos levar até onde a imaginação pode alcançar e se deixar fluir, até além da imaginação.


- Entendo, ao nos entrelaçar, também nos envolvemos com esse Universo do qual somos parte, podendo assim irmos além da nossa imaginação à medida que ela se integra a tudo que nos rodeia.


- Ali no pé daquela montanha, entre os Ipês amarelos, é lá que começa a se desenrolar a trilha que poucos vêem, ela adentra as montanhas azuis, em locais que ela só se mostra àqueles que estão envolvidos com elas.


- Vamos flutuar até lá, bem devagarzinho, e depois podemos ir pela trilha, até o centro das montanhas.


- E quando estivermos lá você pode me dar um sonho bem bonito, todo colorido, cheio de magia, para que juntos possamos desenhá-lo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Lapso de Tempo - Parte II




Valkíria sabia que um dia encontraria Franz, mas para isso ela não precisaria sair da Casa do Gramado. Houve uma ocasião em que tomada pela ansiedade seguiu pela trilha à procura da parte que tinha se desprendido.

Nessa ocasião ela saiu pela trilha deixando os irmãos menores na casa à espera dela e de Franz, ela sabia que não havia com o que se preocupar, esse era um sentimento que pertencia a um outro mundo.

A casa, o gramado, a floresta, cuidariam se necessário dos menores, mas no tempo em que ficou ausente, esses permaneceram adormecidos, ficaram no mundo dos sonhos e, os sonhos são o caminho mais estreito que podia ligá-los à sua essência: a energia que vem das estrelas.

Considerando-se o tempo medido pelos preocupados, Valkíria ficou ausente da Casa do Gramado por toda uma geração, o período de uma vida longa, na contagem deles.

Mas para aqueles que trazem em si a própria essência, esse espaço de tempo não passa de um breve instante, junto ao limite de quando o tempo de vida de um preocupado que vive por muitos anos tende a zero.

Valkíria, Franz e o irmãos tinham atravessado galáxias desde que se desprenderam da grande estrela azul até o momento em que vieram a cair e posteriormente habitar esse planeta e, nesse contexto, para eles, o tempo de vida de um preocupado representa algo praticamente nulo.

É muito curiosa essa peculiaridade do tempo, muitas vezes quando eles se encontraram mesmo que durante alguns segundos, ou até menos que isso, no mundo dos sonhos. esse tempo parecia representar toda uma eternidade, como se esse espaço de tempo tendesse ao infinito e, outras vezes um espaço de tempo longo, como o decorrer da vida dos preocupados, pode tender a zero.

Uma das coisas que parece estar distante da percepção tanto dos preocupados como dos perplexos é essa relatividade do tempo, ele tem pouca ou até nenhuma relação com o tempo cronológico que ambos criaram.

O significado do tempo tem uma estreita relação com aquilo que se cria. Só aqueles que trazem em si a essência que vem das estrelas é que conseguem estabelecer essa percepção.



O tempo sempre foi uma questão que traz tanto aos preocupados quanto aos perplexos, um intenso sofrimento, mas uma coisa que poucos até então se deram conta é que essa contagem que eles mesmos criaram só existe no mundo deles, e se trata de algo que apresenta praticamente nenhuma finalidade, além do incomodo que essa contagem representa.

Todas as demais espécies que habitam o mundo seja dos perplexos ou dos preocupados, sejam esses seres animados ou inanimados, nenhum deles apresentam essa necessidade de um falso controle sobre a contagem do tempo, mas essa, ainda que aparentemente ninguém consiga expressar uma explicação significativa para essa tentativa de controle, parece ser fundamental para eles.

Possivelmente essa seja mais uma das coisas, entre as quais os mundo poderia ser melhor, se simplesmente ela não existisse, pois muitas vezes o não fazer é a forma mais eficiente de se obter aquilo que efetivamente nos é necessário.

Valkíria, nesse momento fazia uma grande caminhada pela trilha, mas como era sua peculiaridade, não tinha pressa, ela apreciava cada passo e contemplava cada árvore como aquilo que elas representam: serem únicas.

Como única é a existência, cada instante que vivemos. De onde vieram, Franz e Valkíria, fosse um instante, ou toda uma eternidade, tudo era dotado da mesma importância, eles sabiam haver uma única possibilidade de viver a vida, que é o momento presente, um tempo infinitamente pequeno, tendo como limite inferior as experiências passado, e superior uma expectativa de futuro e, nenhum desses oferecem a possibilidade de sustentar a vida.

A caminhada de Valkíria terminaria no momento em que ela sentisse preparada para habitar o mundo dos preocupados, onde sabia que ia encontrar Franz.



“Todos temos as nossas máquinas do tempo, as lembranças são as que nos levam ao passado, e os sonhos nos impulsionam ao futuro.” (H. G. Wells - A Máquina do Tempo).

“A memória é como o brilho das estrelas que já foram, mas que ainda persistem.” (Sigmund Freud).



Durante o tempo que viveu com os preocupados Valkíria veio a ter contato com muitos sentimentos que no mundo dos sonhos tinham pouco ou até nenhum significado.

Mas para habitar esse mundo ela necessitava experimentar a vida em um corpo semelhante ao dos preocupados, pois só assim haveria a possibilidade de ela um dia poder entrar em contato com Franz.

O que ela desconhecia é que habitando um corpo ela experimentaria as mesmas sensações dos que viviam tanto o mundo dos preocupados como no dos perplexos.

Nos sonhos o conhecimento apresentava uma importância secundária, uma vez que lá é um lugar em que predomina os desejos, é o mundo das sensações, lá não há tempo nem espaço e, o antes, o depois e o agora podem estar acontecendo simultaneamente.

Ainda que na Casa do Gramado Valkíria vivesse sozinha com os seus irmãos, lá ela nunca experimentou a solidão, uma vez que lá todos são partes de um todo, um Universo infinito, vivo, pulsante. Nesse mundo de sonhos, Valkíria, os irmãos, a casa, o gramado, as árvores, enfim todos que lá habitam, sejam eles animados ou inanimados formam um único ser, ainda que em nenhum momento deixam de ter a sua individualidade.

Com a aquisição de um corpo material, como o dos preocupados, Valkíria veio a experimentar a idéia de finitude presente nos preocupados, essa era uma das questões que fazia com que eles tivessem uma preocupação excessiva com o tempo, isso fazia com que eles vivessem em função dele na expectativa de um dia poder controlá-lo.

Valkíria nunca se deixou levar por essa característica dos preocupados, a necessidade de controle, para aqueles que tinham vindo das estrelas, essa era uma idéia completamente desconexa, no Universo não há o que controlar, como somos partes dele, qualquer tentativa de controle é um contra-senso, desprovido de significados.

Valkíria trouxe em si a peculiaridade de fazer parte do todo e de em seu modo de ser predominar as sensações. Isso provocou nela uma vida doente no mundo dos preocupados, mas mesmo assim, em um futuro próximo, na contagem deles, proporcionou a possibilidade de aliviar parte do sofrimento de muitos, nas gerações que sucederam.



Os preocupados desenvolveram em si próprios a peculiaridade de fazer uma cisão entre o mundo que habitava dentro deles, e o mundo externo, aquele que os rodeiam.

Não, não é erro, é desenvolveram mesmo, tanto no mundo dos preocupados como no mundo dos perplexos a idéia de envolvimento mau passava de um conceito teórico, algo que constava nos dicionários e que quase nunca era consultado.

Junto com essa cisão, como defesa, eles criaram tantas outras, entre elas, de fundamental importância constava a divisão entre conhecimentos e sentimentos, de extrema importância para eles, o conhecimento, sempre sobrepujando os sentimentos que ocupavam um lugar secundário, pelo menos é o que tinham por intenção.

O que poucos tinham noção é a dimensão dos sofrimentos e doenças que essas cisões provocavam.

Ainda que habitando um corpo semelhante ao dos preocupados, nesse momento, Valkíria trazia em si a essência que vinha das estrelas, onde essas cisões eram algo completamente desconexo, desprovido de qualquer sentido.

Entre os efeitos colaterais dessas cisões destaca-se a imensa solidão que toma conta da existência dos preocupados, ainda que esse sentimento nunca tivesse feito parte da existência de Valkíria, como suas percepções viviam à flor de sua pele, aos poucos, quando ainda era adolescente ela foi adoecendo, pelo sofrimento desencadeado pela solidão, recalcado naqueles que viviam ao seu redor.

Passaram-se alguns anos, mas com a ajuda do médico de sua família aos poucos aprendeu a lidar com esses sentimentos e transformá-los em algo produtivo, para ela e aqueles que viviam próximos.

Nessa existência ela se realizou ensinando aqueles que tinham dificuldades em ter acesso às escolas, ainda que se dedicasse a propiciar o acesso à leitura e escrita, nesse trabalho o que efetivamente transmitia era a afetividade que dava sentido à vida.



Durante anos Valkíria se consultou com o mesmo médico que mais tarde veio a se tornar um tipo de confidente.

Seu tratamento era composto de uma série de atividades, alguns medicamentos, uma alimentação balanceada desprovida de componentes industrializados, que na época em Valkíria adoeceu estavam começando a se disseminar no mundo.

Com esse médico Valkíria aprendeu conceitos muito significativos para ela e para todos aqueles que com ela aprenderam a ler, escrever e, principalmente a importância da afetividade.

O médico a ensinou a se tratar usando uma das mãos.

Dizia ele o tratamento do tipo de sofrimento ao qual você está submetida pode ser explicado usando a mão.

Mais tarde Valkíria disseminou aos que a procuravam a explicação do médico, mas ampliando o que ele lhe tinha ensinado, ela sabia que essa explicação não se resumia ao problema que ela tinha e, as idéias contidas nas explicações do médico poderiam auxiliar muitas pessoas.

Segundo o médico:

- O dedo mínimo representava o que o médico poderia fazer para auxiliá-la;

- O anelar representava os benefícios que os medicamentos poderiam trazer a ela;

- O dedo médio, que algumas décadas mais tarde veio a representar um gesto para ofender as pessoas, representava atividades físicas, cuidados com o corpo e atividades afetivas e intelectuais;

- O indicador era para ela se apontar, se reconhecer como responsável pelos problemas e sofrimentos que estava sentindo;

- Finalmente o polegar representava mudanças de atitudes frente à vida, se ela tinha adoecido era por que tinha criado mecanismos, rotinas que a levaram à doença e, enquanto não saísse desse ciclo vicioso, sua doença permaneceria.

Tinha ficado evidente para Valkíria que parte significativa das doenças que as pessoas adquiriam eram responsabilidade delas próprias e, pouco ou nada adiantava procurar médicos e usar remédios se a pessoa não se colocasse na posição de principal responsável pelo seu estado e pela possibilidade de um dia curar-se.



Nesse tempo Valkíria chegou a estar muito próxima de Franz, várias vezes se viram através da janela da casa onde morou, mas estavam separados por um breve lapso de tempo, eles estavam no mesmo lugar, mas vivendo em épocas diferentes.

Valkíria tinha encontrado Franz, e ele por muitas gerações daqueles que habitam esse planeta vivo pulsante estivera à espera dela, não fosse um breve lapso de tempo poderiam ter-se tocado.

Os pais de Franz chegaram a conhecer Valkíria, quando ainda eram crianças foi com ela eles vieram a conhecer o mundo da escrita e dos livros, mas quando a energia contida no corpo que Valkíria estava habitando se extinguiu, ainda faltavam algumas décadas para que Franz viesse a nascer.

Ao deixar esse mundo, a partir do jardim de sua casa Valkíria caminhou por uma estreita trilha que a levaria de volta à Casa do Gramado, trilha essa que muitos poucos tiveram a oportunidade de chegar a caminhar por ela.

Quando o seu tempo estava por expirar, Valkíria sabia que em algum momento Franz encontraria a trilha, agora eles estavam ligados por ela.

No dia em que Franz atingisse a idade adulta teria a oportunidade de recuperar o trabalho de Valkíria, em uma época em que as pessoas estivessem mais preparadas para herdar tudo o que ela inicialmente aprendera com o seu médico, e com o trabalho que mais tarde ela veio a realizar para ele, ainda com as devidas atualizações que foram ampliadas por ela própria.

A antiga casa de Valkíria iria se transformar em um tipo de museu, casa de cultura, para uns poucos que estivessem preparados para restabelecer em suas existências a importância das emoções.

Aqueles que estivessem dispostos a perceber que essas eram tão importantes quanto aquilo que conheciam e, com isso tinham a possibilidade de manter seus sentimentos, pensamentos e atitudes fluindo em um mesmo sentido, isso levaria essas poucas pessoas a se perceberem como parte de um todo, um Universo infinito, vivo, pulsante.



Só quando atingisse a idade adulta, no conceito dos perplexos, Franz voltaria a se encontrar com Valkíria, mas antes disso ele teve a oportunidade de participar da reconstrução da casa onde ela viveu no tempo em que muitas vezes eles conseguiram se ver através de uma grande janela.

As janelas têm uma peculiaridade, elas sempre ligam dois mundos.

Certa vez em um tipo de estado de transe, Franz teve um breve contato com Valkíria, naquele momento ambos estavam no mundo dos sonhos. Quando acordou, a pedido dela deixou um espaço no quintal da casa para um jardim, nesse se iniciava uma pequena trilha, na qual só uns poucos tinham a percepção para enxergá-la.

Essa pequena trilha era um caminho para aqueles que conseguiam ter os sentimentos em compasso com os pensamentos pudessem chegar ao mundo das trilhas, onde em algum lugar se encontrava a Casa do Gramado.

Quando o incidente que deu origem ao mundo dos perplexos estivesse para ocorrer, Valkíria voltaria a caminhar pela trilha, na busca de Franz, mas dessa vez o destino deles não seria o mundo das trilhas nem a Casa do Gramado.



Curiosa essa peculiaridade tantos dos perplexos quanto dos preocupados, eles criaram o hábito de dividir suas próprias etapas de vida, como marcas de seu des-envolvimento.

Todos nasciam como bebes, para depois tornarem-se crianças, posteriormente adolescentes e no ápice de sua existência tornavam-se adultos, prontos para atuar e participar das decisões de seus mundos, até que envelhecem e, assim aos poucos iam deixando de fazer parte da casta da população que mantém um papel ativo na sociedade da qual fazem parte e, finalmente morrem.

Os bebes, crianças e adolescentes não parecem ser reconhecidos como seres inteiros, assim como os idosos, os primeiros são como algo em formação, já o último ocupa o lugar de quem já cumpriu com suas obrigações na sociedade, e assim gradualmente vão lhe retirando suas atribuições.

Assim no mundo deles, que alguns curiosamente denominam de democracia, outro termo curioso, apenas os adultos, e apenas uma pequena casta entre esses, têm o direito de participar das decisões do mundo que habitam, cabendo aos demais a obrigação de acatar as decisões tomadas pelos primeiros.

Ao se tornarem adultos, tanto os perplexos quanto os preocupados reprimem a criança que foram, deixando-as no passado e não percebem que esse é um dos fatores que faz com que elas adoeçam, levando-as a uma velhice precoce, triste e solitária.

Aqueles que tiveram a oportunidade de aprender com Valkíria começaram a se dar conta de que não precisam deixar de ser crianças, bebes ou adolescentes, para esses o des-envolvimento era um processo desconexo, totalmente sem sentido.

A criança nunca deixava de ter contida em si aquele que um dia foi um bebe, assim como o adolescente trazia em si a criança que um dia fora, e o adulto não deixava de ser o processo de envolvimento entre o bebe, a criança e o adolescente, sempre vivo em sua essência.

Quando seu corpo começasse a perder a vitalidade pelo tempo, o idoso tinha sempre em si a companhia de um bebe, uma criança, um adolescente e tudo que concretizou em sua vida adulta, que é a companhia essencial que qualquer pessoa necessita.

Esse idoso, por conviver bem com o seu bebe, criança, adolescente e adulto, por estar envolvido com todos eles, igualmente não tem qualquer dificuldade em conviver e partilhar com outras pessoas que partilham o mesmo espaço que ele, assim dificilmente conhecerá o isolamento e as doenças que advém dele.



Quando o curioso incidente que ocorreu no mundo dos perplexos, que levou todos que tinham algum tipo de veículo a saírem simultaneamente de suas casas, vindo a provocar um congestionamento de dimensões nunca antes ocorrido levando-os definitivamente a abandonarem o paradoxal meio de transporte que haviam criado, Valkíria deixou a Casa do Gramado e foi caminhar pela trilha, em direção ao mundo dos perplexos, ela sentia que tinha chegado o momento de se reencontrar com Franz.

Valkíria sabia que o encontraria, bastava seguir a trilha que unia seus corações. Desde o momento em que chegaram a esse planeta, em um único meteorito, de devido ao atrito com a atmosfera se dividiu em quatro partes, seria a primeira vez que se encontrariam na forma material e espiritual, ela sabia que Franz a estava esperando, eles eram compostos da mesma matéria e energia, a mesma essência, tinham vindo da mesma estrela.

Agora, a estrela da qual faziam parte, emanava energia suficiente a eles, de forma a eliminar o Lapso de Tempo que os separava.

Aos perplexos essas energia veio em forma de sonho, mesmo àqueles que se julgavam despertos, eles não sabiam, mas viviam em uma espécie de transe, fascinados pelo seu modo de vida, e não se davam conta de que se não rompessem paradigmas, estariam não só colocando em risco a sua própria existência com também do mundo que habitavam.

Essa energia tão bem conhecida por Valkíria e Franz era responsável por manter juntos, em sintonia, entrelaçados: os sentimentos e pensamentos.

Quando essa energia chegou para romper o Lapso de Tempo entre Franz e Valkíria, ela também afetou todos os seres fossem eles animados inanimados.

Os perplexos sentiam os riscos que representavam, sejam eles a si próprios ou ao mundo que habitavam, que consideravam como uma propriedade, mas estavam tão distanciados dos próprios sentimentos que achavam que seus conhecimentos dariam conta de reparar tudo que durante milênios degradaram.

Por outro lado, seus sentimentos, ainda que reprimidos percebiam o quanto esse conhecimento era falho, o estreitamento entre os sentimentos e os pensamentos os levaram a uma atitude que veio a romper com o seu modo de vida, inviabilizando o meio de transporte que para muitos era considerado como um símbolo de suas próprias existências.

Valkíria e Franz, tinham permanecido par apontar, quando fosse o momento, que a vida fervilhava nas trilhas, uma outra forma de vida, onde sentimentos e pensamentos permaneciam entrelaçados.

Quando se uniram, Franz e Valkíria sentiram que tão logo apontassem aos perplexos o caminho para chegar às trilhas, teria chegado o momento de se reintegrarem à sua estrela.



Dedico à Marion,

que nas noites de lua cheia se senta ao meu lado, na varanda da Casa do Gramado, me trazendo magia e inspiração.




Lapso de Tempo - Parte I




Lá na curva onde o espaço se encontra com o tempo,
Bem juntinho ao centro do tabuleiro,
tempo é espaço e espaço é tempo,
O antes pode ser agora,
E o depois já aconteceu.

Lá não há primeira, segunda ou terceira pessoa,
todos somos nós,
não importa se animados ou inanimados,
mas ao mesmo tempo,
o nós não deixa de ser eu, você ou ainda ele.

Lá se centra a essência do Universo,
por outro lado não há tempo nem espaço,
e ao mesmo tempo o espaço é infinito,
e o tempo pode ir adiante como ao passado retornar.

O centro do tabuleiro,
se encontra logo ali, além da varanda,
só que quando lá chegar, tabuleiro e varanda,
além do Universo irão estar.



No local onde um dia iria se encontrar a varanda da Casa do Gramado, na clareira localizada no centro da densa floresta, ao longe podia-se ver quatro pedras flamejantes rasgando o céu, no início daquela noite de lua cheia e, denotava que seria repleta de estrelas a iluminar o caminho formado pela trilha que se desenhava ao desejo de quem nela caminhava e que desembocava na clareira coberta pelo gramado.

No horizonte em frente à clareira, uma imensa estrela com luminosidade azul parecia clarear mais o gramado do que a própria lua, naquele momento era a estrela mais brilhante de todo o firmamento, mas lentamente o movimento do Universo a levaria para tão distante, que algumas décadas após a Casa do Gramado ter sido abandonada, ela estaria ocupando um ponto vazio, só podendo ser vislumbrada por quem fosse constituído da mesma essência que ela.

Três das pedras flamejantes caíram bem próximas à clareira, quando estavam próximas, em altas temperaturas, provocadas pelo atrito com a atmosfera ao adentrar nesse mundo provocaram uma pequena ranhura na trilha, que um dia viria a ser a Trilha dos Desejos, depois de muito tempo a ranhura se tornou uma pequena bifurcação.

No fim dessa bifurcação se formou uma pequena clareira cercada por imensas árvores e arbustos que impossibilitava o seu acesso, em seu centro as três pedras flamejantes que caíram do céu levariam séculos para se esfriarem.

Passados esses séculos o gramado também começou a brotar ao redor das três pedras, que guardavam em si a essência do Universo, musgo e uma vegetação rala começou a se desenvolver ao redor e sobre elas, se algum dia as pessoas achassem a trilha que dava acesso a elas teriam a impressão de que eram simples pedras.

O que essas pessoas dificilmente descobririam é que não existem simples pedras, somos todos, animados ou inanimados, partes de um todo, um Universo infinito, vivo, pulsante, sempre...

No fundo somos todos constituídos da mesma essência, a matéria e energia da qual somos compostos é a mesma que vem das estrelas, e as estrelas brilham, sempre.

Essa sensação de finitude, do reducionismo, é tão limitada quanto são limitados os sentimentos, pensamentos e atitudes daqueles que ainda não se perceberam como partes desse todo.

Uma quarta pedra, que tinha rasgado o céu, junto com as outras três veio a se separar delas, quase que escapou do campo de atração desse mundo, vindo a entrar no campo de atração da estrela que o alimenta, mas pouco antes de que isso acontecesse, o campo energético das outras três a atraiu fazendo com que ela voltasse à atmosfera, mas além da distância que caíram, a energia proveniente da estrela e das três pedras provocaram uma ruptura no espaço tempo, deixando-as distantes, não só no espaço como também no tempo.

As quatro eram compostas da mesma essência, tinham se desprendido da mesma estrela, agora, aparentemente ocupando um espaço vazio no firmamento, nem os telescópios mais potentes hoje localizados ao redor desse mundo conseguiram vê-la, aparentemente ela estava em um espaço vazio do Universo.



Passaram-se muitos séculos antes que alguém viesse a habitar o local onde até hoje e para sempre será ocupado pela Casa do Gramado, mas em uma época ainda remota, um casal com três filhos, descontentes com os caminhos que a civilização da qual faziam parte, um dia encontrou uma pequena trilha na entrada da floresta, nos limites da cidade onde viviam.

Essa pequena família tinha por hábito, em seus dias de folga irem passear em locais o mais distante possível da cidade que viviam, pois tomadas pela febre do des-envolvimento seus habitantes a cada dia adoeciam mais.

O mundo estava no princípio da era que se caracterizou pela industrialização, com as máquinas a humanidade estava atingindo um patamar de produção jamais imaginado.

Curioso é que nas gerações anteriores, as pessoas viviam no limite da subsistência, muitas vezes não conseguiam sequer produzir o suficiente para se alimentarem.

Essa nova era, com suas máquinas e capacidade de produção poderia propiciar a elas um nível de riqueza tal, que as necessidades que as gerações anteriores passaram, seria algo cuja lembrança só estaria registrada nos livros de história.

Por outro lado um paradoxo estava se formando, à medida que aumentava o nível de produção da sociedade, também elevava o nível de miséria daqueles que trabalhavam para sustentar essa sociedade, e isso não fazia sentido ao pai de Valkíria, que tinha dedicado sua vida para ajudar a criar máquinas, para justamente amenizar a miséria na qual as gerações anteriores estiveram inseridas.

A essa altura da vida o pai de Valkíria estava se dando conta de que a miséria presente nas sociedades tinha pouco ou talvez nenhuma relação com a capacidade de produção e sim, que seus fundamentos estavam ligados à forma com a qual as pessoas se relacionam.

Seu desagrado com esse mundo que muito tinha ajudado a criar desencadeou nele o desejo de cada vez maior de se afastar da cidade e do modo de produção que agora se implantava e que muito ele tinha ajudado a des-envolver.



A cidade estava tão tomada pela fuligem produzida por aqueles que se diziam donos das máquinas, que à noite praticamente não se podia mais ver as estrelas, mas no horizonte a lua cheia brilhava intensamente, ainda que poucos continuassem a se dar conta que ela estava lá iluminando e insistindo em mostrar caminhos.

Indignados, naquela noite os pais de Valkíria foram com filhos até os limites da cidade para poderem apreciar um pouco o que a lua e as estrelas tinham para nos encantar.

No limite da cidade, em direção à grande floresta, no horizonte as estrelas ainda se mostravam para aqueles que tivessem espírito para apreciá-las.

Praticamente no lado oposto da lua uma enorme estrela com luz azul brilhava quase tão intensamente quanto ela. Em uma linha reta, na direção do horizonte na qual a estrela brilhava, na floresta uma pequena trilha, até então imperceptível estava se formando.

Com a intenção e a pedido de Valkíria, a família adentrou na floresta fechada, para longe do barulho e das luzes da cidade poderem apreciar o céu iluminado pelas estrelas.

À medida que caminhavam no interior da trilha, uma intensa escuridão, só quebrada pela iluminação da grande estrela, envolveu todos que nela caminhavam.

Um desejo envolvia os pais de Valkíria, ela e seus irmãos nesse momento, ainda que não formulassem qualquer palavra, esse podia ser vislumbrado no brilho do olhar deles.

Naquele momento desejaram não mais retornar à cidade e seu cotidiano, queriam encontrar um lugar na densa floresta, afastados de tudo que até então conheciam e lá viverem.

Atrás de cada passo que davam primeiro os arbustos, e na seqüência grandes árvores fechavam a trilha, como se o caminho que eles percorreram nunca tivesse existido.





No meio da noite os cinco chegaram a uma clareira no centro da densa floresta, justamente onde se findava a trilha.

A clareira era plana coberta por um gramado uniforme com a aparência de ser constantemente aparada, mas até então tudo ali parecia totalmente deserto, exceto pela casa de madeira localizada no centro do gramado.

Aparentemente nunca tinha sido utilizada, uma casa simples, mas com tudo que era necessário para umas poucas pessoas viverem confortavelmente.

Na cidade as pessoas tinham o hábito de acumular coisas, mesmo as pessoas mais humildes, mas o que não se davam conta é que a maior parte das coisas que acumulavam não tinham finalidades, mas ficavam ocupando espaços e avolumando o trabalho delas.

Para atenuar esse trabalho as pessoas acumulavam mais coisas que fabricavam com a intenção de produzirem conforto a elas e ajudar na manutenção de outras que já possuíam, mas o trabalho e custo dessas coisas superava em muito o bem estar que elas produziam, assim as pessoas viviam em um círculo vicioso, cada vez produziam mais coisas para obterem conforto, mas que na pratica acabavam servindo só para criar mais trabalho a elas mesmas.

Na Casa do Gramado não havia nada que pudesse ser considerado supérfluo, mas ao mesmo tempo tudo que lá existia era não só o suficiente como também o necessário.

Quando lá chegaram todos se acomodaram na varanda, estavam cansados devido à caminhada, no céu o brilho da lua e da grande estrela azul propiciavam toda a iluminação que era necessária, ainda inúmeras estrelas completavam a iluminação da clareira.

Valkíria e seus dois irmãos, cansados adormeceram, ali mesmo na varanda, quando já era madrugada Valkíria despertou e veio a ter a última visão dos seus pais, eles flutuavam em frente à casa, nesse momento a grande estrela estava no horizonte, quando do lado oposto o céu estava começando a ficar alaranjado pela luz do sol que começava a nascer.

Pouco antes de clarear o dia Valkíria presenciou os pais desaparecerem no horizonte, junto com a estrela que não mais podia ficar visível dado a luz do sol que se intensificava.

Valkíria se viu sozinha com os dois irmãos, mas em momento algum solitária, a trilha pela qual adentraram na densa floresta tinha desaparecido totalmente, mas ela tinha os irmãos, a casa, o gramado, as imensas árvores e arbustos que circundavam o gramado e, principalmente, conseguia desfrutar a ausência de angústia que um dia tinha presenciado naqueles que habitavam a cidade, que agora cairia no esquecimento.

Ela sabia nesse momento que em algum lugar se encontrava uma outra parte dela mesma, que só poderia ser encontrada com a energia proveniente da Casa do Gramado.




O tempo em que viveu na cidade aos poucos foi se tornando uma vaga lembrança para Valkíria, já os irmãos mais novos nem essas lembranças possuíam, quando vieram para a Casa do Gramado ainda eram muito pequenos, mas dos pais eles se lembravam, sabiam ter havido antes de Valkíria pessoas adultas que cuidavam deles.

Muitas vezes os menores sentiram vontade de perguntar a Valkíria sobre eles, mas sentiam que ela teria dificuldades em formular alguma resposta.

Como Valkíria sentiam-se como parte daquele mundo que partilhavam: a casa, o gramado, as árvores, arbustos e eles mesmos, eram parte de um todo, um Universo infinito, vivo, pulsante.

Para os menores o Universo não ia além do gramado, da casa, das árvores que circundavam o gramado, o sol que brilhava durante o dia, a lua e as infinitas estrelas que iluminavam a noite, tinham uma especial admiração pela grande estrela de luz azul que brilhava quase na mesma intensidade da lua.

Já Valkíria sentia que, além desse Universo vivo no pensamento de seus irmãos, em algum lugar havia uma trilha, que podia se ligar a outros mundos e seria por esse caminho, que um dia poderia se encontrar com uma outra parte que em um passado remoto havia se desprendido dela.

Um dia a grande estrela azul iria mostrar onde se encontrava esse caminho.



Já durante a noite a temperatura cai um pouco, o suficiente para que as horas de sono se tornem aconchegantes o bastante, deixando que os sonhos fluam na mesma proporção em que a vida flui.

Na Casa do Gramado os sentimentos habitualmente precedem os pensamentos, isso proporciona àqueles que lá vivem a percepção de que a Floresta, o Sol, as Estrelas podem proporcionar tudo o que necessitam, assim eles sempre têm tempo para si próprios e lá o que passou, o que virá e o agora muitas vezes acontecem simultaneamente.

Não, não é erro de grafia: o Sol, a Floresta, as Estrelas e muitos outros elementos, são nomes próprios são seres que partilham o mesmo grau de importância que tem qualquer outro ser, seja ele vivo ou inanimado. Somos todos parte um todo, um Universo infinito, vivo, pulsante.

No mundo dos preocupados como no mundo dos perplexos, os sentimentos se tornaram secundários sempre subjugados pelo conhecimento, isso fez com que além de adoecerem, aos poucos, a percepção, seja de si próprios ou do mundo que os rodeia, desconexa e muitas vezes desprovida de significados.

Essa falha na percepção fazia com que os preocupados e os perplexos entrassem em um ciclo vicioso de produção que os levava a sugar o mundo que os rodeava, tornando-o tão doente quanto eles próprios.

Aqueles que viviam na Casa do Gramado estavam sempre ocupados, assim a preocupação era um sentimento que nunca se aproximou de lá. A percepção mostrava o quão significativo são os sonhos.

A Casa do Gramado é um lugar para tornar vivos os sonhos.



Entre as palavras que podem definir a Casa do Gramado destaca-se o termo Equilíbrio. Quando Valkíria, seus irmãos e Franz chegaram a esse mundo, o atrito com a atmosfera os dividiu em quatro partes, três delas permaneceram próximas, vindo a cair no lugar em que teve início esse mundo de sonhos.

A quarta parte atravessou a atmosfera desse planeta em velocidade muito maior que as demais vindo a entrar no campo gravitacional do Sol, a energia desprendida por essas quatro partes para que não se fragmentassem totalmente provocou uma pequena ruptura no espaço tempo, além de muito distante, essa quarta parte veio a cair no mesmo planeta mas em uma outra época.

Para manter o equilíbrio a grande estrela azul da qual essas partes haviam se desprendido emitiu um grande clarão, uma pequena explosão solar, que desenhou uma trilha ligando o espaço-tempo em que essa quarta parte caiu às outras três.

Assim, ainda que fragmentada, a Casa do Gramado conseguiu manter o seu equilíbrio, a trilha aberta pela grande estrela, não é apenas uma trilha no sentido físico, ainda que qualquer ser possa por ela caminhar. Essa trilha está sempre em uma densa floresta, mas são poucos os que caminham por ela conseguem chegar à clareira onde se encontra a Casa do Gramado.

A maioria das pessoas que por ela caminha tem a impressão que anda em círculos, pois invariavelmente acabam saindo dela no mesmo local em que entraram. Só quem consegue seguir pelas trilhas do coração chegam à clareira onde se encontra a Casa do Gramado, ainda assim dos poucos que lá chegam habitualmente encontram ou uma casa vazia, ou ainda algumas vezes uma casa em ruínas.

Uns poucos têm a impressão de ver vultos, oras de crianças brincando, ou caminhando pelo gramado e, algumas vezes alguns bichos, vários descrevem dois cachorros correndo livres, um deles de grande porte com pelos curtos na tonalidade cinza, quase preto, com as orelhas em pé e, um outro pequeno, todo branco, com pelos longos.

Mas os poucos que conseguem ver as crianças, ou esses cachorros e outros bichos não conseguem fazer uma descrição precisa, têm a impressão de estar em um tipo de êxtase, como se fosse um sonho.

Mesmo essas pessoas que chegam a ver as crianças, invariavelmente acabam saindo no mesmo local em que entraram na trilha, quando tentam retornar, só encontram uma trilha cercada por uma densa floresta.

No passado usaram bússolas e o que conheciam das estrelas para tentar entender os caminhos que a trilha desenha, na atualidade já usaram equipamentos eletrônicos, para mapearem a trilha, mas nunca conseguiram resultados efetivos, alguns acham que por lá existe algum campo magnético que deixa os equipamentos inoperantes, impedindo um mapeamento preciso.

As descrições daqueles que conseguem chegar à clareira são difusas, muitas vezes parecem refletir locais diferentes, muitos tentaram encontrar as crianças, pensando ser elas crianças perdidas de algum vilarejo próximo, mas nunca houve nenhum relato de que elas tenham se perdido, outros acham se tratar de mitos, criados por motivos diversificados.

Por outro lado nunca perceberam que a discrepância das descrições que ouviam apenas revelavam o desequilíbrio daqueles que relatavam o que viam, desequilíbrio esse que não podia ser medido por nenhum equipamento eletrônico.

Quando Valkíria encontrou Franz em seus sonhos e mostrou a ele como chegar à trilha, esse sempre encontrou um ambiente em equilíbrio, um local, em que se havia uma linha separando o mundo dos sonhos, daquele mundo que os preocupados e os perplexos chamam de real, essa linha era muito tênue.

Assim que Valkíria e Franz achassem o caminho para estreitar esse mundo de sonhos com esse que alguns acham ser o real, a trilha se tornaria tão pequena, que seria como atravessar uma rua para se encontrarem, e o lapso de tempo desapareceria.