segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Estações.




As estações são repletas de peculiaridades entre elas: enquanto algo que parte deixa um espaço para o novo que chega.

Franz sentia-se sonolento, entre um cochilo e outro era despertado ainda que brevemente pelo blim-blom da estação de trens, que em sua seqüência anunciava chegadas e partidas.

Estações são fascinantes: pessoas chegando, outras partindo enquanto outras aguardam.

Há aqueles que aguardam os que chegam, enquanto outros aguardam aqueles que têm hora para partir.

Muitos só acompanham enquanto outros aguardam por companhia e ainda há aqueles que aguardam pela despedida de suas companhias.

Aqueles que partem também aguardam pelo momento da chegada, e muitas vezes nessa, podem desfrutar de novas companhias.

Franz simplesmente aguardava, talvez por algo esquecido em seu emaranhado de lembranças.

Cansado de esperar, se dirigiu ao saguão da estação, ao iniciar seus passos, foi chamado a atenção por alguém que estava próximo, tinha deixado sua pequena maleta de mão com uns poucos pertences, dos quais não fazia idéia do que seriam.

Sabia que tudo que necessitava sempre esteve presente em seus pensamentos e, principalmente em seu coração.

Curioso como as pessoas que passam pelas estações habitualmente trazem junto a si, grandes malas, parece que carregam parte de si mesmos para onde vão.

Ao se aproximar do beiral se deparou com um emaranhado de linhas, tão semelhante ao emaranhado de lembranças que agora tentava se recordar.

Sem qualquer referência, inutilmente tentava se lembrar onde estava, o que fazia ali, de onde tinha vindo, ou até mesmo para onde estava indo.

Só tinha perguntas, mas não conseguia uma única resposta sequer.

Próximo à plataforma de embarque pôde observar um mapa, o local era repleto de linhas de trens, mas nenhum nome lhe parecia familiar.

Cansado procurou um lugar que pudesse tomar um café.





Não tardou em encontrar um pequeno balcão, lá havia vários tipos de cafés e chás, também não faltavam uns pequenos doces e salgados, mas não havia ninguém para atender.

Tampouco encontrou um caixa que lhe pudesse vender algum tipo de ticket para trocar pelo desejado café e, ao vasculhar os bolsos notou não haver sequer uma moeda para trocar pelo café.

Caminhando novamente em direção ao balcão notou que algumas pessoas pegavam o que desejavam, sempre tomando o cuidado para deixar tudo em seu devido lugar, mantendo o espaço limpo e organizado.

Sem jeito pegou um café e o apreciou, lentamente, com prazer, ao lado do balcão percebeu haver uma pequena pia em que as pessoas lavavam os utensílios que usavam, colocando-os de volta no lugar apropriado.

Uma moça que tinha se sentado próxima a ele o interrompeu, pedindo que passasse uma pequena bandeja com guloseimas, ao atender ela lhe perguntou: porque não experimenta, está uma delícia.

Agradecido perguntou se ela sabia onde estavam. Sorrindo respondeu, você não sabe, próximos à Grande Estação, de onde partem todos os trens, daqui onde estamos não há como ir para outro lugar.

Em seguida ela levantou-se, lavou e guardou sua pequena xícara e se dirigiu à plataforma de embarque.

Ainda confuso, Franz continuou pensativo e dirigiu-se a um parapeito na estação com a intenção de procurar nas proximidades por algum lugar conhecido.

Ao se aproximar ficou impressionado, infinitas linhas de trens cortavam toda a paisagem, no horizonte uma imensa estação, onde todas as linhas convergiam.





Confuso Franz retornou ao saguão onde muitos esperavam, acomodou-se em um banco com espaço para duas pessoas que estava vazio.

Nesse momento queria simplesmente apreciar o lugar, ao seu lado uma pequena mesinha anexa ao banco que ocupava, era um pequeno espaço para pequenas bagagens de mão.

Observou o chão do local, mesmo com o intenso movimento era impecavelmente limpo, mesmo com vai e vem das pessoas, tudo parecia estar no lugar certo.

À sua frente uma grande plataforma de embarque, de onde estava podia observar os trens chegando e partindo, com uma infinidade de pessoas embarcando ou descendo dos trens.

Estava confuso, queria saber as horas, mas em nenhum lugar à vista havia um relógio, do lado de fora da estação parecia ser noite ainda, mas tinha a impressão de que em breve o dia iria amanhecer.

Decidiu esperar pelo raiar do dia para embarcar para a Grande Estação que tinha visto do parapeito, já que esse era o único caminho a seguir, mas preferiu esperar que o dia amanhecesse para partir, os trens que ali passavam eram freqüentes, não mais que alguns minutos de intervalo entre um e outro.

Em nenhum lugar da estação conseguiu ver um guichê ou algo parecido que vendesse passagens, nem tampouco havia qualquer tipo de barragem ou controle para que as pessoas entrassem ou saíssem da estação, todos que ali circulavam tinham livre acesso aos trens. As pessoas iam e vinham.

Lembrou-se do Mundo dos Preocupados, eles tinham o costume de registrar em suas regras sociais que as pessoas tinham o direito de irem e virem, por outro lado era muito comum no mundo deles barragens dos mais diversos tipos que limitavam o direito que frisavam que todos tinham.

Imerso em seus pensamentos o tempo passou, e com ele trouxe a luz da manhã.

Franz não tinha percebido que a abóboda que cobria a estação era transparente, através dela pode apreciar um céu de tom lilás, quase branco, no horizonte apreciou o sol que estava nascendo, uma Grande Estrela que luz branca, que agora iluminava brandamente todo o horizonte, trazendo consigo um leve calor que aquecia a todos.

Por um breve instante aqueles que estavam na estação se aproximaram dos parapeitos e ficaram apreciando mais um dia que estava surgindo.

Quando a estrela ocupou um espaço pouco acima da linha do horizonte aos poucos as pessoas voltaram a embarcar nos trens.

Franz sentiu que era o momento de ele também embarcar, quando se levantou e apanhou sua pequena maleta de mão, um senhor que tinha ocupado o lugar ao seu lado o interrompeu dizendo: Não se preocupe, se desejar pode deixar os seus pertences, que a gente guarda para você.

Sem questionar Franz deixou sua pequena maleta na mesinha, agradeceu, e lentamente caminhou em direção à plataforma de embarque.






Muitas vezes parece que as pessoas têm uma representação de si nas coisas que possuem, que carregam, nas roupas que usam; como se essas coisas fossem partes delas próprias.

Algumas vezes ainda essas coisas atingem ápices extremos, suas casas, seus trabalhos; chegam a impregnar suas personalidades, às vezes até outras pessoas passam também a ser consideradas como posses, e ai deixam de ser pessoas e se tornam coisas também.

Nesse processo as pessoas que transformaram outros em coisas, também se tornam coisas, assim suas vidas se transformam em um fluxo contínuo de possuir e trocar coisas.

Franz não tinha idéia do que havia em sua pequena maleta, mas sentia que as coisas nela contidas não eram ele, ou sequer parte dele, não sabia se um dia voltaria a ter a pequena maleta em suas mãos, nem se um dia saberia o que nela estava contido.

Sabia que ao embarcar no trem um novo mundo se desvelaria e tudo que precisava estava contido nele próprio, naquilo que ele conhecia e, principalmente no que sentia.

À medida que se aproximava da plataforma de embarque o movimento de pessoas aumentava, ao olhar para a abóboda da estação notou que o dia estava totalmente claro, o céu que nas primeiras horas da manhã mostrava uma coloração lilás bem clara, agora era todo branco, entre a linha do horizonte e o meio do céu à sua frente, a estrela de luz branca brilhava intensamente.

Próximo à plataforma de embarque, agora as pessoas caminhavam lentamente, devido essa estar completamente cheia, algumas vezes olhavam-se nos olhos e esboçavam um leve sorriso.

Quando um trem partia, as pessoas paravam, por não haver espaço para caminharem mais adiante, não tinham pressa, bastava uns instantes a mais e o próximo trem já chegaria.

Após alguns trens terem parado na plataforma e partirem com todas as suas poltronas ocupadas Franz chegou à frente da plataforma, no próximo ele embarcaria.

Quando o trem estava parando na plataforma Franz deu uma última olhada para traz, na entrada do saguão pôde ver o senhor que tinha dito que podia deixar sua pequena maleta, de longe olharam-se nos olhos, esboçando um leve sorriso.

Franz conseguiu um lugar na janela, quando todas as poltronas estavam ocupadas ouviu o blim-blom característico dos trens antes de fechar as portas.

Da janela ficou observando as feições das pessoas que aguardariam o próximo trem, lentamente começou a mover-se, ao olhar para o saguão não mais encontrou o senhor que tão gentilmente disse que podia deixar a sua pequena maleta.





- O que? Não entendi.

- Como assim? Franz foi enganado?

- O que quer dizer?

- Acha que o senhor que ficou com a maleta de Franz o enganou  para ficar com os pertences dele?

- De onde tirou essa idéia, não estou entendendo.

- Não, aquele senhor não enganou Franz, nem tampouco Franz é alguém que se deixa enganar.

- Porque acha que aquele senhor ou alguém iria querer  subtrair algo que pertença a outro?

- Não, aquele senhor só foi gentil, naquele momento a maleta não teria qualquer finalidade, se em algum momento ela for 
necessária ela irá reaparecer.





- Não, más intenções não fazem parte dos mundos que e

nvolvem a Casa do Gramado.




- Ah! Não, esse tipo de atitude, furtar coisas, era uma atitude 

muito comum por parte das parasitas, é com letra minúscula 

mesmo, no mundo dos Preocupados, antes do evento que se 

iniciou em Trilha dos Desejos.



- Depois desse evento as parasitas se extinguiram, e com elas
 as más intenções se foram.






Franz estava sentado distraído, olhando através da janela as pessoas que se aglomeravam junto à plataforma aguardando o próximo trem.

Depois de ouvir o blim-blom anunciando que as portas do trem seriam fechadas, teve a impressão de que as pessoas que aguardavam estavam se locomovendo para traz.

Curiosa essa impressão que os trens nos passam, às vezes temos a nítida impressão de que ele está parado e é a paisagem que está se movendo, é que eles começam a se mover bem devagarzinho e depois aumentam a velocidade gradualmente.

Aos poucos foi saindo da estação, do lado de fora a vegetação começava a surgir, no início bem rala, mas logo à frente já dava para ver uma densa floresta que envolvia os trilhos.

Todo movimento tem essa peculiaridade observada nos trens, ele é sempre em relação a alguma coisa. Em relação ao trem Franz estava parado, já em relação àqueles que estavam na plataforma estava se locomovendo.

Aqueles que estavam na plataforma estavam parados em relação à estação, já em relação ao trem havia um movimento.

O mesmo trem que estava parado em relação a Franz e àqueles que tinham embarcado apresentava movimento em relação àqueles que aguardavam na estação.

O tempo muitas vezes apresenta a mesma característica às vezes temos a impressão de que ele parou em relação a algumas coisas e, quando comparado com outros parâmetros parece se deslocar muito rapidamente.

Nesse mundo a pressa era um termo desconhecido e, por isso todos tinham muito tempo. Um simples café podia ser apreciado por horas e, ao mesmo tempo longos percursos podiam ser traçados aparentemente em poucos instantes, mesmo quando esses levavam dias para serem traçados.

Lentamente o trem adentrava em uma densa floresta.





À frente os trilhos se assemelhavam muito às trilhas que estiveram presentes em praticamente toda a existência de Franz.

Esse foi um momento em que Franz se sentiu muito à vontade, a sensação de estranhamento que o estava acompanhando desaparecera, inda que não soubesse a origem dessa sensação, para ele era como se estivesse em sua Casa.

Na floresta tinha a impressão de que o trem se deslocava ainda mais lentamente, sentia como se as árvores o estivessem tocando, bem de leve, como se fossem carícias, elas envolviam os trilhos e o trem.

Sentia que por trás da árvores a vida fervilhava, tinha a impressão de que aqueles que habitavam aquele lugar se escondiam quando ouviam o som do trem se aproximando.

Ao olhar detidamente entre as árvores sentiu que estava se locomovendo muito lentamente, teve a impressão de que o trem quase que chegava a parar com  a intenção de que todos pudessem apreciar a vida que fervilhava.

Repentinamente sua atenção foi desviada por alguém no banco à frente que falou um pouco mais alto, mas não conseguiu distinguir o que a pessoa tinha dito, mas ao desviar mais uma vez o olhar para Além da Janela teve a nítida impressão de ter visto uma adolescente sentada em um sofá apreciando um livro.

Mais uma vez voltou o olhar para o interior do trem e percebeu que esse se deslocava velozmente pelos trilhos, praticamente deslizava emitindo um tênue ruído característico, agradável de se ouvir.

Agora prestando atenção ao vagão em que estava notou que todos os acentos estavam ocupados, quando a pessoa que estava sentada ao seu lado o interrompeu dizendo: Você me acompanha, aceita um café, continuou dizendo que ainda demoraria para chegarem à Grande Estação.

Agradecido Franz o acompanhou, foram até um outro vagão que dispunha de café e uma variedade de petiscos, uma música de fundo agradável distraia aqueles que lá se encontraram.

Enquanto apreciava o café com um pequeno bolo de milho, dirigiu o olhar à janela e mais uma vez teve a sensação de que o trem diminuía a velocidade, chegando quase a parar, entre as árvores, praticamente invisível pôde ver um grande cachorro de coloração preta e bege, ele estava com as orelhas empinadas, olhando diretamente nos olhos de Franz.

Com um sorriso nos lábios, a pessoa que o tinha convidado para o café falou bem baixo para Franz: O que a gente sente são os nossos desejos.





Até então Franz não tinha se dado conta, o trem dispunha de um vagão exclusivo para distrair aqueles que viajavam, o que tornava o percurso muito agradável, nesse vagão algumas pessoas se distraiam ouvindo música, enquanto outras passavam o tempo conversando.

Além do café podiam apreciar uma variedade de chás, também não faltavam frutas e outras guloseimas.

Aqueles que aproveitavam o espaço sempre tinham o cuidado de deixar tudo limpo e organizado quando voltavam às sua poltronas, para que outros pudessem desfrutar a viagem com o mesmo prazer que apreciavam.

Franz continuava entretido com a paisagem e as grandes árvores que envolviam os trilhos, sentia a vida fervilhando dentro e fora do trem.

Sentia que entre as árvores havia trilhas que se entrelaçavam e essas tinham uma estreita relação com sua vida e com o que amava.

Apreciando uma pequena brecha pôde ver uma delas, seguindo-a com o olhar viu uma pequena clareira forrada por um grande gramado, no centro havia uma pequena casa com uma varanda e um banco de madeira com lugar para duas pessoas.

Sentia-se hipnotizado, quase adentrando o mundo dos sonhos e, muito ao longe ouviu o blim-blom do trem, anunciando que faltavam alguns minutos para chegarem à Grande Estação.

Aos poucos aqueles que ocupavam o vagão destinado à distração voltaram à suas poltronas, quando deu por si se viu sozinho no vagão, ao olhar para a janela sentiu que o trem estava parado, olhando entre as árvores mais uma vez se deparou com o cachorro que olhava fixamente em seus olhos.

Franz sabia que estavam entrelaçados, eram feitos da mesma essência.

Em passos lentos voltou à sua poltrona, do lado de fora, a densa floresta cedia seu lugar para uma pequena vegetação rala.





Gradualmente a vegetação que até então observava pela janela foi desaparecendo, cedendo seu lugar a inúmeros trilhos que desembocavam em uma imensa Construção Circular, era para lá seguiam todos os trens.

Já dentro da Estação o trem ainda andou por mais alguns minutos. O blim-blom anunciava para todos aguardassem sentados até que parasse totalmente na plataforma.

Calmamente todos permaneciam em seus assentos, aguardando, de relance em uma das plataformas Franz teve a impressão de ver, em uma delas, o senhor que tão gentilmente sugeriu que deixasse sua pequena maleta, mas quando voltou os olhos para o mesmo lugar não mais o viu.

Tão logo o trem parou as pessoas começaram a se levantar e se dirigir às portas de saída, enquanto do lado oposto outras aguardavam para poderem embarcar.

A Estação tinha dimensões gigantescas, Franz ficou observando a plataforma onde desembarcou até que se esvaziasse, só restando umas poucas pessoas.

O prédio tinha muitos andares, imaginou que do lado externo houvesse uma grande cidade, mas logo perceberia estar enganado.

Sentia-se perdido, sem uma direção definida.

Inda que muitas vezes Franz tivesse vivido em lugares com grandes concentrações de pessoas, habitualmente se sentia deslocado nesses lugares.

O tumulto, o barulho, o deixavam desorientado, no geral se sentia mais à vontade em lugares pequenos onde as pessoas caminhavam lentamente e tinham o hábito de ficarem em frente às suas casas, conversando, ou simplesmente apreciando a paisagem ou o vai e vem das pessoas.

A Grande Estação, apesar de haver muitas pessoas em princípio o deixou um pouco desorientado, mas diferente de outros lugares tumultuados, nesse logo ele se sentiu à vontade.

Ao se deparar com a plataforma vazia procurou as escadas e se dirigiu aos andares superiores da estação, sentiu que o dia estava chegando à sua metade.





Não demorou muito e Franz percebeu que o local onde acabara de desembarcar não diferenciava, exceto pelas dimensões, da estação que até então tinha conhecido.

Inda que se sentisse deslocado em cidades grandes sentiu curiosidade em conhecer os arredores.

Com calma subiu até os andares superiores, achou que assim conseguiria ter uma visão de onde se encontrava.

O andar superior da Grande Estação era muito amplo, de certa forma se assemelhava a um jardim, muitas plantas e bancos espalhados em todo o espaço, sentiu que era um lugar destinado às pessoas que aguardavam por algum motivo.

Além dele, só umas poucas pessoas estavam lá, a impressão que lhe veio é que o lugar era desproporcional ao número de pessoas que lá estavam, ainda assim era agradável e, como os demais, mesmo os lugares cheios, o que lhe sobressaia à imaginação é que as pessoas não tinham pressa, se havia algo que caracterizasse aqueles que frequentavam as Estações e os Trens era a calma.

Ao se aproximar do parapeito a expectativa de Franz se esvaneceu, não havia uma cidade no lugar, ali a Estação era o centro, só havia umas pequenas construções ao redor, e muitos trilhos, em todas as direções, com trens chegando e partindo.

Uma pessoa se aproximou de Franz e em confidência disse, aqui é só um lugar para se refletir sobre o ir e vir, é bom vir aqui para pensar e apreciar.

Franz olhou ao céu e percebeu que o dia já ia além de sua metade, o sol desse mundo agora indicava que a tarde se iniciara.

Cordialmente a moça que se dirigiu a Franz perguntou se ele aceitava ir se alimentar com ela, ao olhar em seus olhos, sentiu saudades, mas não sabia nomear a origem desse sentimento.

Com gratidão aceitou a companhia.





Enquanto se alimentava e partilhava a companhia com a moça que o convidara Franz aos poucos recordava-se de um mundo distante em que as pessoas caminhavam sempre olhando para o céu e, quando cansadas se recolhiam em alguma casa para se alimentar com frutas que a vida graciosamente lhes cediam e a preciosa água.

Sentiu saudades daquelas pessoas, desejou saber o que tinha ocorrido a elas, mas sentia-se confuso, às vezes tinha a impressão de que aquelas lembranças faziam parte de um sonho.

Estava em devaneio apreciando suas lembranças, quando foi desperto pela moça que o acompanhava.

Ela estava perguntando para onde ele desejava ir. Franz não sabia o que dizer e respondeu que imagina que onde se encontrava a Grande Estação deveria haver uma cidade, mas ao olhar nos arredores só viu umas poucas construções e muitos trens chegando e partindo e parecia que as pessoas só passavam por ali para mudarem de direção.

A moça sorria e disse que era assim mesmo, muitas vezes simplesmente não há para onde ir, e quando isso acontece talvez a melhor solução seja simplesmente ir.

Já terminando de se alimentar disse a Franz, por que não experimenta a linha do Pôr do Sol, são só dois andares abaixo, nesse horário a paisagem fica especialmente bonita.

Gentilmente ela pediu licença e se despediu, mas antes tomou o cuidado de arrumar a mesa onde tinha acabado de se alimentar e em uma pia que havia ao lado tomou o cuidado de deixar tudo limpo e guardou tudo o que utilizou.

Franz agradeceu e permaneceu mais alguns instantes à mesa, ainda estava apreciando a sua sobremesa, quando terminou repetiu os passos de sua gentil companhia e deixou tudo limpo e organizado.

Desejou colaborar de alguma forma com aqueles que forneciam a alimentação,transporte e tudo o mais, mas não sabia como, estava achando curioso a forma como as coisas aconteciam nas Estações, ainda que até o momento só tinha andado por duas delas. Sentia que ainda estava distante de conhece-las.

Resolver seguir a sugestão, desceu os dois andares, a plataforma de embarque estava cheia, já estava entardecendo, mais uma vez achou curiosa a peculiar calma das pessoas que aguardavam o próximo trem, percebeu que não conseguiria embarcar no primeiro trem pela quantidade de pessoas que aguardavam, assim como outros sentou-se para aguardar.

Em alguns minutos o trem começou a se aproximar, quando abriu as portas, depois do desembarque daqueles que acabaram de chegar na Grande Estação, aqueles que aguardavam em pé entraram e foram ocupando os acentos, quando a plataforma esvaziou, aqueles que estavam sentados se levantaram e ocuparam a frente da plataforma.

Ainda havia alguns acentos vazios, quando se aproximou da plataforma um senhor ofereceu a Franz o lugar para que ele embarcasse.

Agradecido Franz ocupou um lugar junto à janela e ficou apreciando o vai e vem das pessoas, ficou se perguntando por quê essa era a Linha do Pôr do Sol.

Quando o trem começou a se mover com um aceno agradeceu ao senhor que lhe oferecera o lugar.





Lentamente o trem começou a se afastar da plataforma onde Franz embarcara. Ele ficou pensativo enquanto observava as faces das pessoas que ficaram aguardando o próximo que em mais alguns minutos iria estacionar para que aqueles que ficaram aguardando embarcassem.

Já fora da estação cruzou com outro que entrava na estação, ao olhar pela janela sentiu como se o tempo tivesse parado, pôde ver claramente aqueles que agora chegavam no local de onde acabara de sair.

Ficou pensativo, o que levava as pessoas a ir e vir, em um outro mundo do qual tinha apenas lapsos de memória lhe diriam que seu questionamento não tinha sentido, obviamente as pessoas estavam tomando conta da própria vida, indo ou voltando de seu trabalho, se dirigindo às suas casas, ou visitando pessoas, comprando ou vendendo coisas.

Franz sabia disso, mas sentia que nesse mundo nenhuma dessas colocações faziam sentido, tudo isso não deixava de ser aquilo que habita a superfície daquilo que somos, refletindo não conseguia identificar o que o estava levando a procurar outros lugares, sentia que parte do que era estava encoberto por algo.

Da mesma forma que aqueles que davam as respostas óbvias de alguma forma também sabiam que essas simplesmente ocultavam aquilo que de fato é importante.

Franz sentia que na vida a maioria das coisas importantes eram simples, mas muito distantes do óbvio, percebeu que o importante agora era ir, pois assim quando fosse o momento o simples se traduziria à sua frente.

O trem se distanciava do movimento da Grande Estação, à frente uma cadeia de montanhas, envolvidas por uma densa floresta se desenhava.





Não demorou para que Franz entendesse o nome dessa linha de trem que agora percorria, o sol desse mundo agora se posicionava pouco acima de uma cadeia de montanhas que ocupava o horizonte.

A luminosidade da estrela escurecia tudo que havia em volta, o verde da vegetação e da floresta ao fundo assumia um tom marrom escuro, só as silhuetas das grandes árvores podiam ser vistas.

Em um olhar breve para o lado oposto, para evitar a luminosidade que por alguns instantes o cegara, teve a impressão de que o trem estava parado, para que todos pudessem apreciar o espetáculo que se desenrolava.

No lado oposto uma vegetação rala provida de um verde intenso com algumas grandes árvores, praticamente envolviam o trem.

Um pouco mais ao fundo, junto às árvores, deitados na grama viu dois cachorros que descansavam, aparentemente depois de terem brincado intensamente.

Nitidamente eles olhavam para o interior do trem, para o lugar que Franz ocupava.

Pensando Franz achou a cena familiar, mas no momento não se lembrava da relação que havia entre ele e os dois cachorros, que aparentemente o observava.

Ao desviar o olhar para o lado oposto, onde podia apreciar o pôr do sol, sentiu o movimento do trem em direção à cadeia de montanhas.

Agora sentia o trem diminuir brandamente a sua velocidade, pois deslizava por uma subida íngreme em direção às montanhas, à frente conseguia distinguir a serra entre as montanhas, um caminho cheio de curvas, a cena que o sol desenhava era deslumbrante.

Todos no trem permaneciam em silêncio apreciando a cena que se desenhava.





Quando o trem atingiu o topo da serra o sol começava a se esconder na linha do horizonte, deixando acima de si uma intensa luminosidade lilás, iluminando o caminho daqueles que seguiam viagem.

Ao olhar para o lado oposto, lá no infinito, onde o espaço se encontra com o tempo, Franz observou uma estrela que no momento parecia pequenina, mas que emitia uma intensa luz azul, era a primeira a surgir no firmamento, e estava iluminando brandamente a face de todos que apreciavam o pôr do sol.

As estrelas são a fonte de vida de todo esse Universo e elas estão nos presenteando todo o tempo, um sentimento que emergia de todos que apreciavam esse instante permeado pela magia era a gratidão, pelo presente que estavam recebendo.

Lentamente o trem começou a descer a serra, de encontro ao ponto onde o sol derramava seus últimos raios de luz nesse dia.

À medida que a luminosidade abrandava, ao longe, aqueles que estavam no trem podiam apreciar uma pequena vila, incrustada entre pequenas montanhas e grandes árvores.

Ao chegar em uma região reta e plana, serpenteado por uma vegetação rala com árvores ao fundo, Franz pôde observar um portal com os dizerem: Bem vindos à vila do Pôr do Sol.

Gradualmente o trem foi diminuindo a velocidade e após o blim-blom característico foi anunciado para que todos permanecessem sentados e que logo chegariam à estação.

Pela primeira vez desde que chegara a esse mundo Franz estava apreciando pela janela pequenas construções que nitidamente eram habitações espalhadas entre as árvores.

Lentamente o trem adentrou a estação e parou junto à plataforma.





Aos poucos as pessoas foram se levantando de seus acentos e caminharam em direção às portas do trem, uma a uma desembarcou indo em direção à plataforma e em seguida às saídas da estação.

Tão logo o desembarque ocorria, aqueles que aguardavam o trem se posicionaram para embarcar e seguir para outros caminhos.

Curiosa essa característica das estações, pessoas chegando e partindo, algumas simplesmente esperando, outras tantas só acompanhando.

Em alguns instantes a plataforma ficou vazia, aqueles que tinham chegado se dirigiram às saídas e aqueles aguardavam já tinham adentrado no trem e estavam esperando pela sua partida.

Franz caminhou lentamente, por um momento fitou os olhos de uma moça que estava embarcando, em retribuição ela  ofereceu um sorriso e uma breve frase: “No limite da vila perto das grandes árvores há um caminho.”

Ele a achou conhecida, mas não se recordava de onde.

Ficou parado por uns instantes, olhando para aqueles que ocupavam seus lugares nos vagões.

Logo ouviu o blim-blom característico, em um último olhar viu a moça com quem trocara olhares quando ela estava embarcando, distraída agora ela brincava com um pequeno cachorro branco que estava sentado em seu colo.

Tão logo o trem iniciou seu movimento mais uma vez trocaram olhares e um leve sorriso.

Franz ficou parado, aguardando que o trem se afastasse da estação, depois de mais alguns instantes outras pessoas começaram a chegar e se espalhavam pela plataforma aguardando o próximo trem.

Distraído, se dirigiu à saída da estação, caminhava despreocupado, no saguão parou para apreciar um café, do local onde estava podia apreciar a calçada do lado oposto da estação da Vila do Pôr do Sol.

Pensativo ficou olhando para o vazio, do lado de fora já estava escuro, só algumas lâmpadas com uma iluminação branda iluminavam a rua.

Na esquina ao lado de uma árvore viu um grande cachorro de pelos curtos e escuros olhando fixamente para ele, teve a certeza de que era o mesmo que tinha visto quando estava no trem, descansando no gramado entre as árvores.

Limpou a mesa onde apreciara o café e se dirigiu às calçadas da Vila do Pôr do Sol, tão logo deixou tudo que usara limpo e organizado.

Ao chegar à rua sua face foi iluminada por uma tênue luz azul, vinda da maior estrela que podia ser vista no firmamento que agora estava próxima ao centro do céu.

Ficou apreciando por uns instantes, do outro lado da calçada, próximo à árvore o grande cachorro que sempre o acompanhava o aguardava pedindo carícias. Franz se aproximou e juntos ficaram apreciando a sua estrela, que brilhava intensamente.





Enquanto apreciava as estrelas e acarinhava o cachorro com quem agora partilhava a presença, não pôde deixar de pensar na moça que lhe dissera que no limite da vila havia um caminho.

Estava com dificuldades em relação ao seu pensamento de que a conhecia, percebia agora estar em um mundo que embora tivesse estabelecido alguns contatos ainda não tinha chegado a conhecer ninguém.

Por outro lado, olhando nos olhos do cachorro que agora o acompanhava, não tinha qualquer dúvida de que o conhecia há muito tempo, talvez desde sempre.

Sabia que na maioria das vezes um simples olhar, a presença, já traziam em si o que era necessário.

Ambos mantinham o olhar fixo no céu, muito distante, no ponto mais remoto sentiam a Grande Estrela Azul brilhando intensamente, a face de Franz e os olhos de seu cachorro refletiam a tênue luz azul vinda dela.

Aqueles que viviam no mundo das Estações quando viam os dois, procuravam no céu o que eles apreciavam, mas só conseguiam observar o vazio.

Franz imaginou se haveria algo além da estrela, mas a sua percepção terminava nela.

Ficou imaginando o que haveria de familiar de conhecido na moça que lhe dera o recado, achou que talvez essa resposta estivesse além da sua estrela, talvez todos tivessem vindo de lá desse minúsculo ponto que estava além da percepção, além do infinito, em um lugar onde o tempo ainda não existia.

Um intenso sentimento de felicidade percorreu todo o seu ser, quando percebeu-se ele e seu cachorro olhando-se fixamente nos olhos, sabiam ter vindo da estrela que iluminava as suas faces, ela brilhava para eles, sentiu haver outros a serem achados.

Ao levantar-se uma senhora o abordou:

- Você não gostaria de se alimentar e de um lugar onde possa descansar; você e seu amigo são muito bem vindos.





Franz estava cansado e aceitou com gratidão o convite, ao se levantar e caminhar junto com a senhora, o seu cachorro também o acompanhou.

Ao olhar em direção à Estação, só umas poucas pessoas caminhavam em direção a ela, os trens nunca paravam, ainda que seu fluxo diminuísse à noite.

Na centro da rua, Franz observou a existência de trilhos, aparentemente eles corriam por todos os caminhos.

À medida que se afastava da Estação Franz notou a existência de casas que ladeavam as ruas, essas, não teve duvida, representavam algum tipo de moradia, uma curiosidade é que todas tinham as suas portas abertas.

Não demorou e junto com a senhora que o tinha convidado adentrou em uma delas o ambiente soava familiar, ainda que não soubesse o motivo.

À frente uma pequena varanda, com um banco para descansar, do lado de dentro, na sala, uma mesa para umas poucas pessoas, lá havia alimentos, água e muitas frutas, mais ao fundo pôde perceber que existia dois quartos.

O cachorro de Franz permaneceu à porta, mas logo foi convidado pela senhora que os trouxera para também entrar, disse que já estava frio e o interior da casa era mais agradável.

Com um leve grunhido aceitou o convite com gratidão vindo a ficar ao lado deles. Logo a senhora ofereceu a ele água e um pouco de comida.

Além deles a casa estava vazia.

Enquanto se alimentavam a senhora dizia o quão era gratificante desfrutar a companhia daqueles que vinham conhecer a vila.

Depois de se alimentarem sentaram-se um pouco à varanda para apreciar a noite, enquanto conversavam um pequeno veículo se movia sobre os trilhos no meio da rua, em direção à Estação, em seu interior havia umas poucas pessoas sentadas em seus bancos.

Quando passou em frente à casa onde estava Franz teve a impressão de ver a moça que lhe disse que nos limites da vila havia um caminho, olharam-se nos olhos, quando o pequeno trem passou à porta.

Em tom de gratidão pela companhia a senhora ofereceu a Franz um pouco de água com mais algumas frutas e disse que se sentisse à vontade se desejasse dormir.

Retribuindo a gratidão aceitou ao se levantar seu cachorro o acompanhou, assim que recebeu dela um carinho nas orelhas.

Franz sentia-se flutuando enquanto se dirigia à cama, pensou que talvez estivesse em um sonho.





Franz... Você deseja algo, balbuciou Valkíria em seu ouvido e depois lhe trouxe um pouco de água.





Valkíria refletiu um pouco sobre a preciosa água que trouxera, lembrou-se dos Esquecidos e de quanto esses a prezavam, suas reservas eram como um santuário a ser preservado, sentiam o quanto ela era vital à sua existência, por isso habitavam locais distantes delas e a usavam com parcimônia, só o necessário.

Continuando sua reflexão Valkíria lembrou-se dos Preocupados, eles sabiam que a água era primordial, por isso sempre usavam os seus recursos para obterem uma água de melhor qualidade, para eles, não só a água como o mundo que os rodeava eram um bem a ser desfrutado.







Valkíria percebeu ser essa uma das grandes diferenças entre os povos: Os Esquecidos sentiam, enquanto os Preocupados procuravam saber, mas cada um a seu modo, buscavam pela vida.





Já na Casa do Gramado a vida simplesmente fluía.





Em seu banco, na varanda de sua casa, ao lado de Franz, que estava profundamente adormecido, Valkíria apreciou o céu, a Estrela Azul brilhava intensamente e, à medida que a tênue luz azul a envolvia, ela se espalhava por toda a Casa do Gramado, entre essa e a estrela, agora só havia o vazio.





Franz despertou quando a luz começou a adentrar o quarto onde dormia, o Freud-cão já tinha despertado, sentado ao lado da cama, olhava nos olhos de Franz, ele tinha passado toda a noite cuidando dos sonhos, sentiu a presença de Valkíria quando ela trouxe a água.

Ao se levantar o agradável cheiro de café ocupou todos os espaços da casa.

Junto com o Freud-cão foi à janela, era a primeira vez que apreciava o amanhecer na Vila do Pôr do Sol.

Ao fundo já iluminado pela luz do dia pôde apreciar as montanhas azuis que se erguiam no limite da vila, ficou por uns momentos apreciando, entre as montanhas um trem deslizava pelas suas linhas, escalando-as lentamente.

Franz sentiu que a luz da estrela desse mundo caminhava próxima à linha, ao entardecer ela se escondia por detrás dessas montanhas, onde agora via o trem desaparecendo entre as elas.

No centro da cozinha havia uma mesa para quatro pessoas que lhe pareceu familiar, ainda que não pudesse agora recordar de onde, lá havia café e um bolo de milho ainda quente, também não faltava guloseimas para o Freud-cão, que sempre o acompanhada, mas além deles a casa estava vazia.

Após se alimentar e deixar tudo arrumado, desejou conhecer a Vila do Pôr do Sol, desejou ficar na vila e partilhar a companhia com os que lá viviam.





Ao sair Franz notou que não havia fechadura para fechar a porta, essa era dotada unicamente de uma maçaneta de forma que todos podiam circular pela casa livremente, a porta visava tão somente impedir que o vento frio durante a noite entrasse na casa.

Ao se posicionar na varanda o Freud-cão deu um salto e se juntou a Franz, eles partilhavam a presença como se sempre tivessem estado juntos, depois de encostar a porta e se dirigir à rua, se depararam com um trem dotado de um único vagão indo na direção da estação onde desembarcara na noite anterior.

Quando olhou em seu interior notou que quase todos os assentos estavam ocupados, mas não houve tempo suficiente para identificar quem nele estivesse.

Franz se distraia, apreciando o sol que aquecia a manhã ainda fria, ao olhar para o céu a luz branca vinda dele ofuscava, mas o leve calor que transmitia fornecia uma sensação de bem estar.

Nas ruas só umas poucas pessoas circulavam, em um primeiro momento ficou com a impressão de que era porque o dia estava apenas iniciando, mas logo percebeu que o movimento da vila era sempre assim.

Além das casas onde aqueles que viviam na Vila do Pôr do Sol habitavam, só haviam alguns galpões, não muito maiores que as casas.

Logo percebeu que no centro de todas as ruas havia trilhos e, em intervalos de tempo regulares pequenos trens, como o que havia visto logo cedo e aquele no qual estava a moça que lhe tinha dito que nos limites da vila havia um caminho.

Desejou encontrá-la uma vez mais, tinha a impressão de que talvez ela pudesse ter algumas respostas, ainda que não soubesse formular as perguntas.





Esse ultimo pensamento ficou latejando na mente de Franz, percebeu-se contaminado pelo modo de ser dos Preocupados, sentiu que em algum lugar conhecera alguém que muito raramente tinha perguntas, mas sempre que estava nesse lugar as respostas surgiam, mesmo antes de as perguntas serem formuladas.

Percebeu que os Preocupados, assim como os Perplexos, sempre estavam a busca de respostas e isso os levavam a pensar ininterruptamente tentando achá-las, mas invariavelmente desconheciam as perguntas.

Lembrou-se de um sonho de quando ainda era criança, e caminhava por uma trilha, na companhia de uma menina pouco maior que ele e outras duas crianças, sabia que essas eram irmãs da maior, simplesmente sentiu sem qualquer necessidade de formular perguntas.

Entre eles, ainda que pouco falassem, tudo simplesmente fluía, pois a presença, um simples olhar, quase sempre traziam em si todos os significados que se faziam necessários.


3 comentários:

  1. Sempre a admirar teus textos..
    Há muita sensibilidade em cada palavra..
    A inspiração e beleza de sempre!
    Estarei sempre aqui é gostoso de acompanhar, você
    escreve muito bem.
    Parabéns, o blog está lindo!

    Beijinhos.

    Marion

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  2. Seus textos são lindos e inspiradores, sempre deixam um gostinho de quero mais.
    Envolvidos na leitura nos transportam para um "outro mundo" até o infinito.
    Parabéns, você escreve deliciosamente bem.

    Beijinhos.

    Marion

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