domingo, 22 de dezembro de 2013

Estações.



Depois de ter caminhado até os limites da Vila do Pôr do Sol Franz encontrou uma pequena trilha muito fechada, com espaço só para uma pessoa, muitas vezes tinha que desviar o corpo da vegetação que exalava um leve perfume adocicado, para não machucá-la.

A luz da Estrela Branca que iluminava esse mundo que agora se aproximava da linha do horizonte mudava sutilmente sua cor mesclando o branco e um leve tom de lilás, só visível quando refletido em pequenas flores brancas que despontavam entre a vegetação.

No fim da trilha ao longe Franz avistou uma pequena construção que lhe era muito familiar nesse mundo, dotado de uma simplicidade que traz em si tudo aquilo que mais é necessário.

Refletiu por um instante toda a sua estada até então no Mundo das Estações e percebeu uma sutil semelhança com a Casa do Gramado e o Mundo dos Esquecidos, em nenhum momento se deparou com algo que não tivesse utilidade ou fosse excedente, mas ao mesmo tempo traziam em si tudo o que era necessário.

Sentiu estar no limite da Vila do Pôr do Sol, a construção que vira era uma pequena estação, a menor que já tinha visto, dotada apenas de uma pequena cobertura, no mesmo nível da rua, mas tão aconchegante como todas as demais.

Dentro dela olhando os trilhos à sua esquerda, ao longe entre duas montanhas avistou a pequena vila que tão bem o acolhera, já do lado direito os trilhos adentravam o que mais se assemelhava a uma pequena trilha e desapareciam logo após uma tênue curva em meio à vegetação.

Próximo à estação só algumas poucas casas, Franz sentiu a vida dentro delas, mas não percebeu a presença de nenhuma outra pessoa.

Em seu interior a estação dispunha de um pequeno balcão duas mesas redondas com cadeiras à sua volta, não faltavam nesse pequeno espaço o café, chá e umas poucas guloseimas.

O cheiro de café exalava por todo o ambiente, inda que não houvesse mais ninguém no espaço estava claro que alguma pessoa tinha acabado de prepará-lo e deixado lá para quem o desejasse, o aroma estava irresistível.

Depois de apreciar o café Franz se dirigiu à plataforma que tinha apenas um pequeno banco, lá deparou com um senhor que lhe pareceu familiar aguardando o próximo trem.

Era o senhor que tinha ficado com a sua pequena maleta quando se dirigiu à Grande Estação, sentiu que ele o aguardava, com um leve sorriso nos lábios o senhor apontou a Franz os seus pertences.

Franz chegou a segurar suas coisas nas mãos, espiou o seu interior, mas sentiu que não mais precisava delas, com um sorriso a devolveu ao senhor, que devolveu o sorriso, pegou a maleta e com passos lentos se afastou da plataforma e caminhou em direção a uma das casas que ficava próximo à Estação.

Franz ficou sozinho sentado no banco junto à plataforma, a luz da estrela agora com um tom lilás mais forte vinda de entre as montanhas deixava tudo em volta na escuridão.

A luz tem um aspecto curioso, a ausência dela nos deixa na escuridão porém quando mais forte traz em si a penumbra. A vegetação, antes de um verde intenso, quebrado pelo colorido de suas flores, agora apresentava um tom cinza escuro.

Não tardou e ouviu o som peculiar do trem que se aproximava, diferente dos que estava acostumado a ver esse dispunha de um único vagão, quando parou as poucas pessoas que estavam em seu interior desceram.

Com passos lentos e as mãos vazias Franz embarcou, todos os bancos estavam vazios e não havia mais ninguém na plataforma.

O trem ficou um longo tempo estacionado, mas nem por isso cansativo, a luz antes forte da estrela agora era mais branda, o que devolveu à vegetação o seu verde intenso.

Após o blim-blom característico as duas únicas portas se fecharam e lentamente o trem se moveu em direção à curva que adentrava a vegetação no que mais se assemelhava a uma trilha, da janela se esticasse o braço Franz poderia tocar a vegetação.

O trem se movia lentamente, aparentemente com o desejo de não danificar as plantas à sua volta.

O entardecer no Mundo das Estações era extenso, a luz da estrela podia ser vista no horizonte, mesmo após muito tempo ela ter desaparecido.

Após o que pareceria horas no Mundo dos Preocupados o trem diminuiu ainda mais a sua velocidade até parar totalmente e abrir as portas, mas aqui como no mundo dos Esquecidos aparentemente o tempo não trazia qualquer preocupação.

Onde estava não havia estação, mas à frente não havia mais trilhos, os Preocupados teriam a impressão de estar em meio ao nada, mas Franz sentia estar em casa.

Do cubículo na frente do vagão, desceu o seu condutor que se dirigiu ao outro extremo dele, ao cruzar com Franz mostrou um leve sorriso nos lábios e entrou novamente no trem no seu lado oposto.

As portas se fecharam e mais uma vez, lentamente, agora apenas com o seu condutor foi-se afastando.

Franz seguiu a Trilha há muito familiar, entre as árvores sentiu o movimento de alguém que caminhava junto com ele com passos firmes, era o Freud-cão que viera recepcioná-lo.

Mais alguns instantes e se deparou junto ao gramado, na varanda acomodada no banco com seu pequeno cachorro branco aos pés Valkíria parecia esperá-lo, acima das grandes árvores às costas de Franz a Estrela Azul já brilhava intensamente, iluminando a varanda e a face de sua amada.

Na entrada da varanda se envolveram em um abraço, entrelaçando as almas, flutuando, em direção à Estrela da qual são partes.

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