quinta-feira, 7 de julho de 2011

Essência: Um caminho para as estrelas - Parte III



Logo descobriram que a pequena quantidade de plasma capturada era muito mais letal do que imaginavam, se ela desestabilizasse transformaria o planeta todo em um punhado de poeira cósmica, por um lado se conseguissem reproduzir o fenômeno que fazia com que as estrelas brilhassem as pessoas conseguiriam um suprimento de energia nunca antes imaginado, mas por outro, igualmente representava um perigo também nunca imaginado.

Assim, com urgência construíram um laboratório no espaço dessa forma se o plasma entrasse em colapso, o laboratório estaria condenado, mas o planeta ficaria intacto, uma vez que o plasma se extinguiria no vácuo.

Os esforços eram constantes, estavam utilizando toda a tecnologia até então conhecida, mas não conseguiam decifrar o que mantinha o plasma ativo, até que surgiu a idéia de construir mecanismos que pudessem capturar parte do plasma que se desprendia das estrelas.

Para isso, o maior inconveniente é que era necessário estar muito próximo à estrela, para possibilitar a captura antes que ele se extinguisse no vácuo.

Com o pouco plasma que tinham conseguido capturar foi possível constituir um campo de força que protegeria uma espaçonave da radiação, para que ela pudesse se aproximar o suficiente para coletar o que se desprendia da estrela, antes que esse se extinguisse.

Não tinham conseguido reproduzir o fenômeno que mantinha as estrelas vivas, mas tinham achado uma forma de obter energia o bastante para que se lançassem às estrelas.

Era perigoso demais utilizar essa tecnologia no planeta, assim tudo estava sendo construído no espaço, com isso estavam iniciando o passo mais significativo até então conhecido para aqueles que habitavam o mundo das preocupações se lançarem às estrelas.



À medida que conseguiam capturar maiores quantidades de plasma, uma grande quantidade de espaçonaves passou a ser construída, além delas bases no espaço começaram a se espalhar, dado os riscos que representavam manipular o plasma no planeta.

Parte das novas gerações passariam a ser geradas nessas bases e espaçonaves, agora os propulsores das espaçonaves eram impulsionados pela energia proveniente das estrelas e, com isso a barreira constituída pela velocidade da luz em breve seria rompida.

As leis da física até então conhecidas estavam deixando de ser absolutas, a relatividade entre espaço e tempo, matéria e energia, equilíbrio entre atração gravitacional e campos eletromagnéticos, obedeciam leis até então desconhecidas, a amplidão do Universo ia além do espaço físico que ele ocupava.

O caminho formado pelas estrelas que unia as duas galáxias era composto por um tipo de túnel que unia os seus centros, quando descobrissem uma forma de viajar através desse túnel estariam sujeitos aos campos gravitacionais que mantinha o equilíbrio entre as galáxias.

Esse campo gravitacional tem proporções tais que quem nele adentrasse alcançaria a velocidade infinita assim, o tempo de deslocamento entre as galáxias tenderia a zero.

A dúvida que ainda persistia era se os campos de força que conseguiram construir com a energia do plasma que envolvia as espaçonaves teria potencial suficiente para suportar os campos gravitacionais.



Os túneis que uniam as galáxias não representavam riscos como inicialmente se pensava, depois das primeiras viagens neles ficou-se com a impressão de que eles tinham sido constituídos para que se pudessem viajar em seu interior.

Lá as leis da física ainda estavam para serem descobertas, não eram as mesmas que regiam o Universo conhecido, agora já era possível se deslocar para qualquer local desde que soubessem calcular as coordenadas de onde desejavam chegar.

O campo de força para envolver as espaçonaves sequer eram necessários, agora sua função se limitava a evitar que a atmosfera no interior delas se perdesse, no caso de alguma fissura em sua estrutura.

As viagens intergalácticas após algumas gerações se tornaram uma constante, as pessoas do mundo das preocupações já não dependiam mais do planeta para sobreviverem, agora já tinham muitos mundos que podiam explorar ou habitar, mas as pessoas estavam optando por viver no próprio espaço.

As espaçonaves e bases funcionavam como Universos particulares cada qual com regras específicas, ainda que mantivessem contato com as demais.

O temor de que o planeta pudesse sucumbir por causa de alguma tempestade solar tinha ficado no passado, ainda que as espaçonaves fossem mais frágeis que os planetas a possibilidade de se locomover para qualquer local do Universo transmitia sensação de controle, ainda, diferente do que ocorria nos planetas, nas espaçonaves os controles estavam à mão das pessoas.

A necessidade de controle sempre foi a questão mais significativa daqueles que habitavam o mundo das preocupações, tinham a impressão de que quanto maior o controle, menor seriam os riscos aos quais estariam expostos.

As espaçonaves necessitavam de manutenção constante e sempre estavam criando mais sensores para manter o controle em seu interior e nas suas proximidades.

Aos poucos as novas gerações com o seu des-envolvimento não mais saberiam com era a vida no planeta, exceto pela descrição registrada daqueles que nasceram nele.

Atualmente poucos se lembravam o que tinha levado as pessoas a buscar o caminho das estrelas, agora achavam que tinham conseguido a sua segurança em suas bases e espaçonaves.

Não cansavam de mapear o Universo, pensavam agora que não teriam mais limites, podiam se locomover para qualquer lugar do Universo, mas não tinham idéia da imensidão de Universos ainda desconhecidos.

Quanto mais se des-envolviam mais se afastavam do Universo que efetivamente precisava ser conhecido, o Universo que habita o interior das pessoas.

À medida que mapeavam e expandiam a exploração do espaço, mais desconhecido se tornava a própria consciência de si próprios, podiam ir a qualquer lugar desde que conseguissem definir suas coordenadas, mas o Universo interno tinha se tornado um imenso desconhecido.



No mundo composto pelas trilhas, as pequenas aldeias se tornavam cada vez menores, a população vinha diminuindo gradualmente, as grandes distâncias tornavam difíceis as comunicações e, cada vilarejo assumia uma vida independente.

Na medida que se envolviam com o mundo que os rodeava, ampliava a percepção de que cada pessoa necessitava de uma grande área para que suas atividades não degradassem o mundo que lhes propiciava a vida.

Por outro lado em medida semelhante ao isolamento que cada vilarejo estava assumindo, sentia-se a necessidade dos grupos de pessoas, pois sem esses a vida se tornava inviável.

Entre as pessoas havia uma dualidade desconhecida em outras espécies, ao mesmo tempo que elas necessitavam de sua individualidade, em proporção semelhante necessitavam de outras pessoas, sem as quais sequer conseguiam se reconhecerem como seres.

Essa proximidade com seus semelhantes em proporção significativa propiciava a formação de suas personalidades.

Para não danificarem o mundo que as rodeava precisavam viver em pequenos grupos, mas essa vida limitada estava restringindo as suas potencialidades.

Por um lado os campos psíquicos que conseguiam desenvolver eram providos de significativa profundidade, por outro a quantidade de possibilidades diminuíam gradualmente.

A manutenção da vida e a não interferência para evitar a degradação do mundo que lhes propiciava a vida praticamente consumiam todas as potencialidades que as pessoas tinham.

Um paradoxo estava se configurando, ao mesmo tempo que se envolviam com ambiente que os rodeavam, sentiam a necessidade de ampliar seus horizontes.



Em um tempo remoto, muito antes de ter ocorrido a cisão entre o mundo das preocupações e o mundo das trilhas, algumas tribos eram nômades, as pessoas tinham a necessidade de ficarem se mudando de lugar, em busca de alimentos.

Com o des-envolvimento da agricultura e tecnologia essa pratica foi gradualmente abandonada e as pessoas passaram a se fixar, não mais necessitando de constantes mudanças.

No mundo das trilhas ainda que muito das tecnologias des-envolvidas durante milênios tivessem sido abandonadas dado a degradação que provocavam ao mundo e consequentemente a si próprias, as pessoas em alguma medida voltaram a adquirir parcialmente os hábitos dos povos nômades.

Ainda que tivessem aprendido a aproveitar o que a natureza lhes oferecia e isso era mais do que suficiente para a manutenção da vida, havia a necessidade de socialização, difundir o que cada aldeia tinha aprendido e, ainda conhecer novas formas de vida.

Assim, muitos quando adquiriam graus diferenciados de maturidade e, sentiam que onde viviam praticamente se esgotava a possibilidade de um crescimento interior maior, as pessoas saiam pelas trilhas e temporariamente acabavam por se fixar em outros vilarejos.

Dessa forma propiciavam que aquilo que tinham apreendido fosse disseminado em outros lugares, ainda propiciava integração entre as pequenas aldeias.

Habitualmente essas mudanças ocorriam quando as pessoas adquiriam graus diferenciados de maturidade e sentiam a necessidade de ampliarem seus horizontes.

O mundo das trilhas, como os demais se mantinha em constantes transformações, ainda que aos olhos de quem o visse de fora parecesse estático.



À noite, quando apreciavam o céu estrelado e o caminho formado pelas estrelas é que ocorria o maior grau de envolvimento entre todos, as árvores gentilmente deixavam espaços abertos entre seus galhos para aqueles que pudessem ver apreciassem as estrelas e, os que não eram dotados de visão e os seres inanimados através de sua percepção podiam sentir o bem estar que esses momentos mágicos proporcionavam.

Conforme ia entardecendo aos poucos os galhos das árvores abrandava a iluminação vinda da lua e das estrelas, ainda, os arbustos envolviam aqueles que podiam se movimentar para proteger-lhes o sono.

Nessas horas todos eram tomados pelos sonhos, um mundo diferente, vivo, pulsante, ninguém ainda tinha se dado conta, mas esse era o momento que mais ficavam próximos às estrelas, nesses momentos todos ficavam mais próximos da própria essência.

Somos todos, quer os animados ou os inanimados, poeira de estrelas, somos compostos da mesma matéria e energia que compõem as estrelas.

O Universo é composto pelo equilíbrio e pelo caos, da mesma forma somos compostos por esses elementos. Há regiões inóspitas compostas por tempestades nesse cosmo e, muitas vezes são essas mesmas tempestades que mais tarde irão propiciar o equilíbrio necessário para que a vida prolifere.

É no sono que muitas vezes aqueles que têm vida encontram o equilíbrio para o caos no qual está envolvido o seu psiquismo e, nos sonhos é que se esboçam os caminhos para se encontrar esse equilíbrio.

As pessoas ainda não tinham se dado conta que algo estava sendo determinado nelas ao se reunirem à noite para apreciarem as estrelas, quando acordavam pela manhã pouco se lembravam da noite anterior, quando seus sonhos começassem a se entrelaçar grandes transformações iriam ocorrer.



As pessoas vivem uma dualidade que as demais espécies desconhecem, na natureza há seres que vivem essencialmente sós, basicamente são auto suficientes, eles se juntam exclusivamente para poderem proliferar a própria espécie à medida que crescem tendem a sobreviverem sozinhos.

Já há outras espécies que só conseguem sobreviver em grupo, quando por algum motivo se desprendem de seu grupo inevitavelmente deixam de viver.

As pessoas por suas características desfrutam dessas duas características, ao mesmo tempo que necessitam de sua individualidade, não conseguem sobreviver se não for em grupo.

Se cedem às pressões da sociedade na qual vivem se despersonalizam, se em sua personalidade predomina características individuais acabam por tornar-se egoístas, a se utilizar do trabalho de outros em benefício próprio, característica essencial das extintas parasitas.

É o equilíbrio entre as características individuais e sociais um dos fatores que determina maior ou menor saúde mental.

Nas trilhas é à noite, quando ficam fascinadas pelas estrelas que as características sociais mais transpareciam, quando os pensamentos e sentimentos delas convergiam no mesmo sentido enquanto apreciavam o céu iluminado, seus sonhos  se entrelaçavam e nesses sonhos vinham à tona as imagens mais primitivas de sua existência, o encanto das estrelas denotava que eram formados da mesma matéria e energia que as compõe.

Quanto maior o número de pessoas entrelaçadas maior era a energia que deles se projetavam ao Universo do qual faziam parte, às vezes essa energia emitia tanta luz que seu clarão parecia se aproximar do caminho formado pelas estrelas ligando as duas galáxias.



A alma quando aquecida se expande e se entrelaça com aquele que a aquece, à noite enquanto se encantavam com as estrelas, ainda que até então não tinham se dado conta, as pessoas estavam se encantando com a sua própria essência.

Sabiam que toda a vida que proliferava no planeta, inclusive as suas próprias eram movidas pela energia proveniente do sol, que também era uma estrela.

Assim se é a energia dessa estrela que alimenta toda a vida existente é porque de alguma forma essa energia está presente em nós mesmos, mas durante o dia todos estavam envoltos às atividades para a manutenção de si próprios e assim restava pouco tempo destinado à reflexão.

À noite com a redução da luminosidade as atividades que as pessoas podiam exercer eram muito limitadas, assim, o tempo ficava destinado a si próprias e à reflexão.

As pessoas juntavam-se em pequenos grupos e procuravam por clareiras para poderem apreciar o encanto que o céu estrelado lhes proporcionavam.

Quando estavam tomadas pelo sono adormeciam, envoltas às árvores, arbustos... E cobertas pelo céu estrelado.

Para que não despertassem os sonhos vinham para proteger o sono, pois cada vez que o sonho cessava elas acordavam, eventualmente durante o sono algumas pessoas desapareciam.

Inicialmente quando acordavam ficavam em dúvida, se aquelas pessoas já não estavam mais entre eles, ou se elas tinham sido simplesmente um produto de seus sonhos.

Não se davam conta muitas vezes tinham dúvidas sobre o real, era difícil distinguir se havia alguma diferença entre o material que era produzido em seu cotidiano durante o dia, e sobre o que era constituído nos sonhos enquanto dormiam.

Alguns tinham a impressão de que eram coisas completamente diferentes, ainda, alguns desses enquanto apreciavam as estrelas à noite começavam a ficar com dúvidas sobre essas diferenças e, aquelas que começavam a pensar que o material dos sonhos era constituído pelo mesmo material que produziam quando achavam estar acordadas, deixavam de estar presentes no mundo diurno daqueles que habitavam as trilhas.

Ainda que muitas vezes esses que tinham deixado de habitar o mundo diurno, comumente vinham visitar aqueles que conheciam quando estavam no mundo dos sonhos, para esses seu mundo passava a ser o dos sonhos.



O mundo das trilhas depois de um longo tempo aparentemente sem transformações gradualmente parecia estar sendo moldado e, em proporções semelhantes à sua nova forma, a população estava diminuindo.

Já há algum tempo não estava mais sendo necessário replantar as árvores e arbustos que costumavam nascer nos caminhos em que as pessoas costumavam caminhar.

O mundo parecia estar evoluindo as árvores e arbustos pareciam estar escolhendo lugares que seriam definitivos para que crescessem sem a interferência das pessoas.

Às vezes pequenos pedriscos se desprendiam das encostas e ocupavam os locais que as pessoas e outros seres que se locomoviam, usavam para caminhar, eventualmente pedras maiores rolavam e paravam na divisa separando as plantas das trilhas.

Árvores e outras plantas que produziam alimentos curiosamente nasciam nas proximidades dos vilarejos, diminuindo a necessidade de as pessoas saírem pelas florestas à procura de alimentos para satisfazerem as suas necessidades.

As chuvas e outras intempéries que antes muitas vezes danificavam as habitações e outras construções que as pessoas necessitavam vinham se tornando amenas e, assim, as pessoas estavam tendo mais tempo para dedicarem-se a si próprias.

Grandes gramados cresciam e circundavam as habitações deixando espaços para árvores que produziam sombras nas horas quentes do dia, mas afastadas o suficiente das casas para não danificá-las.

As construções feitas pelas pessoas se mesclavam de tal forma com o mundo que as rodeava que quando eram olhadas de um ponto distante era difícil diferenciar as construções humanas do que era produzido pelo ambiente.

Algumas casas estavam ficando desabitadas à medida que a população diminuía, quando isso ocorria em muito pouco tempo arbustos cresciam ao seu redor e depois tomavam conta de seu interior, não deixando marcas da interferência das pessoas.

Ao anoitecer a energia em volta dos vilarejos se potencializava, o caminho formado pelas estrelas ligando as galáxias brilhava cada dia mais, o brilho que antes só era visto alto nos céus agora parecia estar chegando à copa das árvores que circundavam os vilarejos.



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