domingo, 15 de abril de 2012

Entardecer.




- Você está em nossa casa?

- Sim estou.

- Pode me fazer um favor?

- Diz, será um prazer.

- Pode ir até a janela, gostaria que me mostrasse as montanhas azuis, deixe-me vê-las, através de seus olhos.

- Vamos juntos, de mãos dadas, mesmo quando estamos dentro de casa, vamos ficar abraçados, pela cintura, apreciando o horizonte, olhando nos olhos, lendo os pensamentos.

- Logo irá anoitecer, podemos ficar na varanda, esperando a grande estrela azul surgir entre as montanhas.



Assim que Valkíria e Franz se sentaram e começaram a se balançar na cadeira da varanda, o sol já estava desaparecendo  atrás da Casa do Gramado, deixando o horizonte repleto de tons vermelho-alaranjados.

Em frente à casa, defronte à varanda onde eles descansavam o céu já estava tomado de um azul escuro, anunciando a noite que se aproximava rapidamente.

Primeiro os arbustos e na seqüência as grandes árvores aos poucos foram tomando conta de todo o gramado que envolvia a Casa do Gramado, deixando uma pequena abertura, uma fresta, em frente à porta da casa, ao lado da cadeira onde Franz e Valkíria, em estado de transe esperavam pela noite que se avizinhava.

Quando o céu estava totalmente escuro só uns poucos raios de luar conseguiam atravessar a densa folhagem das grandes árvores vindo a iluminar brandamente a face deles.

Os dois cachorros que habitualmente brincavam com eles, um pequeno de pelos longos e brancos e o outro maior de tonalidades cinza-escuro e preto vieram se deitar junto a Franz e Valkíria na varanda, não demorou e outros seres cheios de encanto que habitam as trilhas também vieram fazer companhia.

Se alguém pudesse olhar de longe pela pequena abertura deixada pelas grandes árvores, seria possível ver uma luz quase tão brilhante quanto a lua, quando ela está cheia, proveniente da varanda da Casa do Gramado, mas a abertura não foi deixada para essa finalidade, ela estava lá para que a luz da grande estrela azul pudesse adentrar a varanda.

Assim que a grande estrela surgiu entre as montanhas e sua luz começou a adentrar a pequena abertura deixada pelas árvores, Franz e Valkíria começaram a flutuar em frente à casa, lentamente foram assumindo posições cada vez mais altas, agora já podiam ver todo o redor da Casa do Gramado, estavam pouco acima das grandes árvores e, além da casa viam claramente a entrada da trilha, que no momento ligava a casa ao centro das montanhas azuis, agora totalmente imersas na escuridão da noite.

Aos poucos foram assumindo posições cada vez mais altas, além  das montanhas já podiam ver pequenas luzes brilhando brandamente das cidades situadas nas redondezas.

Pouco mais e já era possível ver a luz do sol iluminando a outra face do planeta, não fosse a energia da grande estrela azul já estariam congelados e sem ar para respirar, mas para aqueles que são movidos pela luz das estrelas isso não é importante, esses podem ir a qualquer lugar, até onde o espaço se encontra com o tempo.

Já fora do planeta imersos em seu transe se desenhava o caminho das estrelas, unindo a Casa do Gramado à grande estrela azul, que nesse momento alimentava Valkíria e Franz, que assim permaneceram apreciando a sua estrela.



Em seu pequeno apartamento Franz despertou, ainda faltavam alguns momentos para amanhecer, mas ao olhar para o relógio, seus ponteiros estavam parados, entre um instante e o seu predecessor.

Levantou-se para olhar pela janela, estranhou o silêncio total, onde morava sempre tinha algum movimento, mesmo durante a madrugada, mas nesse momento tudo estava parado, a rua estava totalmente deserta.

Desejou ver o céu, mas os prédios ao seu redor só deixavam livre algumas frestas.

Permaneceu por um longo tempo olhando a janela e a rara ausência de movimento que vinha da rua.

Sentiu naquele momento estar sendo procurado, e desejou intensamente ser encontrado.

Franz estava se questionando sobre o que estava fazendo, desejou voltar para a cama e sonhar, mas estava totalmente desperto, fitou por alguns instantes o relógio que estava parado, não emitia nem tic-tac que estava tão habituado a ouvir e, no momento seguinte o ponteiro dos segundos voltou a se movimentar.

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