sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Trilha.


Ao entrar na atmosfera do planeta, muito antes de os preocupados virem a habitá-lo, Franz se desprendeu de Valkíria e seus irmãos, naquele momento a grande Estrela Azul despendeu parte de sua energia para evitar que Franz escapasse do campo gravitacional da Terra e desaparecesse na imensidão do Universo vindo a dificultar substancialmente o reencontro deles.

Foi nesse momento que a trilha se desenhou, deixando um elo de ligação, no tempo e no espaço, propiciando assim a Valkíria em algum momento reencontrar Franz, que estaria a sua espera.

Durante muito tempo Valkíria habitou a Casa do Gramado, à noite, na varanda sonhava acordada com o momento em que poderia caminhar pelo caminho de estrelas que se desenhava no horizonte em direção à grande Estrela Azul, mas faltava energia para que ela e os irmãos pudessem se desprender do campo gravitacional do planeta, pelo menos na forma que adquiriram para habitar esse planeta.

Já Franz, ainda que habitasse o mesmo planeta, estava distante da Casa do Gramado e separado de Valkíria por um lapso de tempo. A convivência com os preocupados e a distância de Valkíria, fez com que Franz “esquecesse” a sua origem, ainda, no local e tempo que habitava praticamente estava impossibilitado de visualizar a grande Estrela Azul, que poderia ativar as memórias que o ligavam à sua essência.

Franz sempre sentiu que não pertencia ao mundo dos preocupados, ao menos na forma como esse mundo tinha se configurado, sentia que era parte de um todo e, de alguma forma os preocupados também faziam parte desse todo, mas no estágio em que se encontravam eles sempre estavam buscando formas de se desprenderem do Universo que habitavam, de utilizá-lo apenas como fonte de recursos para atender coisas que habitualmente não tinham qualquer finalidade e quanto mais adotavam essa prática mais se afastavam da própria essência.

Efetivamente Franz não via qualquer possibilidade de fazer parte do modo de ser dos preocupados, mas era o lugar que tinha, sentia que devia esperar por algo, mas desconhecia o que esperar.

Já Valkíria trazia em si a energia que ladeava a Casa do Gramado, sentia que essa energia era proveniente da grande Estrela Azul, que também a alimentava, igualmente sentia que a sua essência estava ligada à sua estrela, mas desconhecia a forma pela qual um dia poderia se unir ao mundo do qual se desprendeu.

Só unidos, Franz e Valkíria, poderiam em algum momento juntar as memórias que um dia poderiam levá-los a caminhar juntos, de mãos dadas, olhando nos olhos, pelo caminho de estrelas que se desenhava a partir da Casa do Gramado, unido-a à grande Estrela Azul.

Valkíria se encantava ao caminhar pela trilha que se desenhava logo além do gramado, habitualmente em frente à varanda, mesmo antes de encontrar Franz, muitas vezes caminhava por ela para refletir, mas até então a trilha sempre ladeava a Casa do Gramado, de forma que ela sempre ficasse à vista, ao menos quando Valkíria caminhava por ela sozinha e, assim conseguia ficar com os irmãos menores à vista.

Ela gostava de caminhar só para refletir, sentia-se especialmente reconfortada quando acolhida pelos galhos das grandes árvores que sempre a envolviam, sentia-se fascinada pela vida que vicejava em todos os cantos, mostrando encantos que saltavam a seus olhos.

Gostava especialmente quando começava anoitecer e podia apreciar a lua cheia brilhando entre os galhos das grandes árvores.

Valkíria sentia que a trilha representava um elo de ligação muito importante em sua existência, mas a sua memória ainda fragmentada não permitia a ela compreender o seu significado.


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