sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Encontro.




- Olhe para além da parede...


Franz já estava quase dormindo, e a frase ressoou claramente em seus ouvidos, caminhou por seu pequeno apartamento e sentiu que ele estava deserto.

Tão deserto como o vazio que sentia no mundo dos preocupados.

Como era hábito sentia uma leve insônia, foi até a janela e apreciou a rua deserta, sentia um certo prazer em ver a rua deserta, o que raramente acontecia.

Não havia nada a fazer, percebeu que mais uma vez teria dificuldades em dormir, mas apagou a luz e voltou para a cama, quando ainda estava sentado, mais uma vez a frase ressoou claramente em seus ouvidos.


- Olhe para além da parede...


Dessa vez Franz permaneceu sentado na cama, ajeitou o travesseiro e se encostou na parede atrás da cabeceira da cama, meio que em transe ficou olhando para a parede do lado oposto, envolvido pela escuridão que tomava conta de seu quarto.

Lentamente uma luz branda azulada começou a iluminar a parede que Franz fitava.

Aos poucos nas leves texturas e imperfeições da parede, aos olhos de Franz foi se desenhando uma pequena varanda, que em sua infância tinha sido muito familiar.

Além da varanda, uma densa floresta ocultava uma pequena entrada, uma tênue trilha, cujo caminho se desenhava ao sabor do desejo daquele que tivesse a percepção de que ela ali estava.

Sem sair da cama, Franz sentiu estar flutuando, se expandindo, até a beirada da varanda. A floresta à frente estava totalmente fechada, as grandes árvores pareciam não deixar qualquer espaço para uma abertura, por menor que fosse.

Na beira da varanda, Franz via uma criança, um menino, com cinco ou seis anos de idade, caminhando lentamente junto às grandes árvores, parecia estar procurando algo.

Achou a cena muito familiar, recordou sua infância, suas caminhadas pela trilha, a Casa do Gramado, Valkíria e seus irmãos, sentiu saudades e desejou uma vez mais estar naquele mundo de encantos.

Enquanto refletia aquele momento, achava estar em um sonho, ainda que se sentisse totalmente desperto.

Em breve descobriria que suas saudades não tinham um lugar para habitar, tudo o que pertencia à Casa do Gramado era composto da mesma essência, tudo que lá existia tinha se originado no mesmo lugar.

Pouco acima das grandes árvores, a luz da grande Estrela Azul, iluminava agora o ponto central formado pelas grandes árvores da densa floresta, onde Franz notou que o menino que observa adentrou, ele sentiu que ali se encontrava, naquele momento a entrada da pequena trilha.

Lentamente a luz do amanhecer começou a adentrar o pequeno quarto de Franz, além da parede ainda que tênue podia ver leves traços do que imaginou ser uma varanda e, além dela, manchas que insinuavam ser grandes árvores.

Ainda em estado de transe uma vez mais ouviu a mesma voz, só um pouco mais distante.


- Eu te encontrei.

Um comentário:

  1. Olá George! Esta foto, me deu uma sensação muito forte de vivenciar esta cena, ou de já ter estado neste lugar...(déjà vu) Que me incomodou muito...
    Eu diria: Eu te encontrei!
    10/01/2010

    Adoro o seu trabalho, é maravilhoso!

    Beijos.

    Marion

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