sábado, 26 de maio de 2012

Indagações de Franz e Valkíria.





- Você disse alguma coisa?

- Não, só estava pensando.

- Pode me dizer sobre o que pensa?

- Não sei ao certo, talvez pensando em pensar, no silêncio, no vazio. Lá no Mundo dos Preocupados as pessoas se incomodam em demasia com o vazio, mas em nosso mundo de sonhos o vazio reconforta, parece que ele nos aproxima de nossa essência.

- Mas a essência nunca se encontra afastada de nós, ela está em nós, nós somos a própria essência.

- É verdade, talvez essa seja uma das diferenças entre a Casa do Gramado e o Mundo dos Preocupados.

- Não creio, talvez lá devido aos ruídos os Preocupados só tenham deixado de perceber que têm uma essência.

- É isso, creio. Eles estão sempre procurando por algo fora deles mesmos, e o curioso é que dá impressão de que não fazem idéia do que procuram.

- Talvez seja por isso que eles têm o habito de preencher todos os espaços, e não permitam o vazio à volta deles.

- Tem sentido, parece que o vazio provoca angustia a eles.

- Angustia? Não entendo.

- Também acho difícil, é algo parecido com medo, mas não é isso, o medo sempre está relacionado a algo, talvez seja o medo de sentir medo.

- Acho que entendo, mas a única sensação que tenho do significado desse medo é de não conseguir voltar à nossa estrela, mas sinto que isso é uma impossibilidade, e nesse sentido o vazio reconforta, em especial no meio das noites, quando ela brilha entre as árvores e entre ela e nós só existe o vazio.

- Talvez esse seja o sentido da angústia nos preocupados, acho que eles não percebem que a sua matéria e energia também é proveniente das estrelas.

- Como assim, isso não tem sentido.

- Acho que percebo o que você sente, aqui em nossa casa, na Casa do Gramado, essa é uma idéia desconexa, mas lá eles não pensam nisso.

- Mas aqui também não pensamos, não há o que pensar, a gente sente, é isso, somos parte do todo, esse Universo infinito, vivo, pulsante.

- Sim, aqui essa idéia é muito simples, é evidente, e esse sentimento simplesmente transborda em tudo à nossa volta.

- Acho curiosa essa percepção que você cita dos preocupados, como eles separam o pensamento do sentimento, não são coisas separadas, elas estão entrelaçadas.

- Sim, aqui também me sinto assim. Talvez esse seja um  dos motivos que levam os preocupados a esse sentimento de angústia, ao medo de sentir medo.

- Não vejo sentido.

- Acho que é isso mesmo, creio que não há sentido nenhum.



Aos poucos enquanto a noite se aproximava o silêncio foi envolvendo ainda mais Valkíria e Franz, mas diferente do silêncio que ocorre no Mundo dos Preocupados, entre eles não havia nenhum mau estar, ao contrário a comunicação continuava intensa, agora eles se olhavam nos olhos, habitualmente entre eles as palavras não eram necessárias, ainda que dialogassem com freqüência. Entre eles o olhar, a simples presença, já traziam em si tudo o que era necessário.

Agora a grande estrela azul brilhava intensamente na clareira, enfrente à varanda da Casa do Gramado, lentamente se entrelaçaram e passaram a flutuar muito acima das grandes árvores que circundavam a casa.

Não havia mais nem o vazio entre eles e a Grande Estrela Azul, estavam unidos, pela energia de suas essência e a da estrela. Toda a Casa do Gramado brilhava.

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